Monção | Não existe, no concelho de Monção, quem possua um volume documental como a Casa de Sende. São mais de meia centena de quilos em papel, ora em manuscritos, ora em desenhos, alguns com mais de 300 anos e que agora foram colocados à guarda do Arquivo Municipal de Monção, mediante um protocolo subscrito pelo proprietário da Casa de Sende, José Sotomaior, e o presidente da edilidade monçanense, António Barbosa.
O vasto espólio, já considerado fundamental para compreender a colonização do Brasil no séc. XVIII, foi, na oportunidade, objeto de um auto de entrega, mediante protocolo entre a família e o Arquivo Municipal de Monção. Este se encarregará do devido tratamento arquivístico e respetiva conservação, sendo depois colocado à disposição de todos os estudiosos que quiserem saber mais da história nos tempos da colonização do Brasil, nomeadamente na exploração da Amazónia, e/ou, com base neles, elaborar teses de mestrado ou doutoramento.
O mesmo respeita, sobretudo, ao governo da Capitania do Piauí e dos Estados do Maranhão e Grão-Pará, na 2.ª metade do séc. XVIII, governos confiados a duas personalidades oriundas da Casa de Sende que, designadamente, fundaram vários municípios (vilas e aldeias), entre os quais, Viana e Monção, no Maranhão.
“O conhecido e reputado historiador Ernesto Português, oriundo de Monção (…) lançou, na tarde do último dia 26 de junho (…) a obra ‘Da Casa de Sende aos Governos do Maranhão, Piauí e Grão-Pará”
Obra maior
Entretanto, com base na mesma documentação, o conhecido e reputado historiador Ernesto Português, oriundo de Monção, onde já foi condecorado como Cidadão de Mérito, lançou, na tarde do último dia 26 de junho, nos jardins da Casa Museu da Universidade do Minho, em Monção, a obra “Da Casa de Sende aos Governos do Maranhão, Piauí e Grão-Pará”.
Editada pela Universidade do Minho (Casa Museu de Monção) e Câmara Municipal de Monção, é composta por três centenas de páginas e é de capa dura. Nesta está a reprodução de um desenho de uma das embarcações em que os, então, responsáveis da capitania do Piauí e dos estados do Maranhão e Grão Pará , oriundos da Casa de Sende, utilizavam, na 2ª metade do séc XVIII, para navegar na Amazónia.
“Uma obra maior da nossa historiografia!”, considerou Viriato Capela, professor jubilado da Universidade do Minho e presidente cessante da Casa Museu de Monção, propriedade da mesma instituição, personalidade que, logo de início, incentivou o lançamento da obra que trata de três gerações da Casa de Sende com um papel determinante na colonização do Brasil e descoberta da Amazónia.
O autor, Ernesto Português, feliz com o coroar de um trabalho de investigação que durou mais de uma dúzia de anos, saudou a forma como a família se disponibilizou a colocar a documentação à disposição da comunidade, através do Arquivo Municipal. Congratulou-se com o acolhimento da atual edilidade monçanense e da Casa Museu. Deu conta, ainda, de que o espólio poderá dar origem, inclusivamente, a mais obras.
Em nome da família, falou Conceição Sotto-Mayor, que resgatou a vasta documentação de baús antigos na Casa de Sende e contactou, desde logo, Ernesto Português. A descendente da Casa de Sende registou o entusiasmo e dedicação deste e a satisfação da família por o ver, agora, colocado à disposição da comunidade.
Monção mais forte
O edil monçanense, António Barbosa, louvou o gesto da família em ceder a documentação e, deste modo, contribuir para um melhor conhecimento da história. “Como monçanense, sinto-me honrado e orgulhoso com os extraordinários feitos e as invulgares proezas dos homens da Casa de Sende”, destacou. Enfatizou, ainda, o “árduo trabalho” de Ernesto Português, bem como o seu “apurado sentido de pesquisa e narrações precisas no tempo e no espaço”. “Com este livro, Monção ficou, literalmente, mais forte”, observou, manifestando, ainda, abertura para “novos desafios” no âmbito da documentação da Casa de Sende.
“Com este livro, Monção ficou, literalmente, mais forte”
No programa do lançamento da obra, registaram-se, ainda, momentos musicais e a declamação de poesia. Entre os presentes, estava, ainda, autarcas e ex-autarcas em Monção, de várias cores políticas, família e amigos do autor e da Casa de Sende, bem como da Universidade do Minho, cuja vice-reitora Manuela Martins se manifestou agradada com a elevada afluência ao ato e deu conta, para breve, da tomada de posse da pessoa que assumirá a presidência da Casa Museu. Desde já, adiantou, será uma senhora.