Há dias lia num Jornal galego uma reportagem sobre os novos criativos de grandes marcas ou profissionais que toparem um nicho no mercado criando pequenas firmas, na moda Galega e que considerava eram os que haviam tomado o relevo aos desenhadores dos 80.
Mas sempre que se fala de Moda Galega, com maiúsculas, surpreende-me o silencio ou ignorância ou desaire que se faze ao linho que se cultivava na nossa terra, á roca para fiar a lã e ás tecedeiras com seus teares rudimentares. Lembro, na minha nenés por terras de Viana do Bolo, que era raro não topar em cada casa uma daquelas máquinas de tecer, não atopar a roca ou as lavouras do linho.
Logo, ao império da minha curiosidade sobre todo o referente a Galiza, indaguei na historia, incluso da Moda, e descobri do cultivo ancestral do linho e da utilização da lã na vestimenta desde sempre; foi mais tarde, numa visita ao Gaiás na exposição “Con-Fio en Galicia”, penso que num interessante esforço para impulsar o sector e projetar uma imagem de pais, que satisfiz em parte minha curiosidade retrocedendo de golpe na historia, iniciando com uma agulha do Paleolítico achada no Cova de Eirós (Triacastela), oso polido de 7 cm. de longitude e considerado como a peza mais antiga vencelhada ao têxtil, ou pezas que os romanos usavam para criar fio (e que se conservavam numa caixa no Museu Arqueológico de Ourense), exemplos de vestimenta de castrejos, romanos ou galegos e seu evoluir até o tempo atual e incluso dous bonecos com a vestimenta do rei galego Afonso IX e sua dona Berenguela de Castilha.
Também a exposição celebrada na Casa da Luz (Pontevedra) de achegamento ao processado do linho e todo seu trabalho artesanal e aquelas maravilhosas colchas e trajes que tinham nossas avos. Reivindicaram-se os teares e a roca e as tecedeiras e o linho e a lã. E também a moda, que colocou a Galiza como referente no panorama internacional e que chegou a ser a partir dos anos 60, graças ao impulso inesquecível de Regojo desde Redondela especialmente com sua camisa Dalí e nos anos seguintes com epicentro em Ourense, o motor económico mais importante, com a automoção, e competindo com a tradicional indústria do mar.
Tal vez não sejamos conscientes da importância, o evoluir e as adaptações ás circunstâncias atuais do mundo da moda e do têxtil. Empresas que fabricam tecido a partir de garrafas de plástico recicladas, a investigação em materiais disruptivos, os cursos de postgrão de Xestion Industrial da Moda na UdC, o iminente Perte de Economia Circular ou o próprio Amancio Ortega colaborando no projeto da biofibra florestal.
“Tal vez não sejamos conscientes da importância, o evoluir e as adaptações ás circunstâncias atuais do mundo da moda e do têxtil”
Mas, para alguém que pretenda saber polo miúdo a historia da Moda em Galiza a partir dos 80 (naturalmente, do século passado), mais um pequeno resume histórico anterior, resulta imprescindível a leitura do livro “40 ANOS DE MODA EN GALICIA”, da autoria, sempre festiva, do entranhável jornalista viguês Fernando Franco que em algo mais de 200 pax., de edição elegante, magníficas fotografias e ajeitados colaboradores, e numa linguagem ágil, afável e desenfadada nos transporta a uma época tão convulsa, criativa e apaixonante como a que se inicia com a morte do Ditador e que abre uma janela a uma nova sociedade e a uma nova indumentaria ou jeito de vestir.
Fernando Franco é testemunha de exceção que participou em toda a movida, jornalista multidisciplinar, imprevisível e retranqueiro que mesmo pode definir-se como monárquico, no convencimento de que seus amigos que o sabemos inteligente não o imos crer, mas que quando escreve o faze com o máximo rigor e amenidade. Livro recomendável, de fácil, amena e placentera leitura. –
Quinta do limoeiro, maio do 2022