Entrevista | Cristina Sampaio é uma proeminente representante feminina do humor gráfico português. Nasceu e vive em Lisboa. Em 1985 licenciou-se em pintura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Começou a fazer ilustração infanto-juvenil em 1987, área onde publicou mais de uma vintena de livros, em editoras como Editorial Caminho, Bertrand Editora ou Porto Editora. Está igualmente representada em inúmeras publicações colectivas de ilustração e de cartoon. Desde 2009 faz parte da associação Cartooning for Peace.
A partir de 1986 começou a trabalhar como ilustradora e cartunista para diversas revistas e jornais, nacionais e internacionais, com destaque para Expresso, Público e O Independente, em Portugal; Courrier International, em França; Kleine Zeitung, na Áustria; The Boston Globe e The New York Times, nos EUA.
O seu trabalho foi apresentado em numerosas exposições colectivas e individuais, em Portugal e no estrangeiro, destacando-se Alemanha, Bélgica, Brasil, Cuba, Dinamarca, França, Grécia, Itália, Noruega, República Checa, Suécia, Suíça e Turquia.
Em 2007 foi laureada com o 1º prémio na categoria de cartoon editorial do World Press Cartoon, que em 2009 e em 2015 a voltou a distinguir, desta vez com uma menção honrosa.
Com ela falamos sobre sua carreira artística
Por que você gosta de desenhar?
A resposta mais óbvia seria, porque sempre desenhei e sempre gostei. No entanto poderia dizer que há duas razões essenciais, a lúdica e a cívica. Por um lado, desenhar dá-me prazer, e para isso não tenho explicação. Por outro lado, sempre senti a necessidade de intervir civicamente, e os meus desenhos são a minha forma de o fazer.
Desde quando você desenha?
Desenho desde que me lembro. Com 9 anos fiz as minhas primeiras bandas desenhadas, para a família, e com 13 anos desenhei os meus primeiros cartoons, caseiros, quando aconteceu a revolução do 25 de Abril.
Quais tópicos você gosta de desenhar?
Qualquer assunto que me suscite reflexão sobre o mundo em que vivemos, e que eu possa satirizar, me interessa. Mas tenho mais apetência pela política internacional, os alvos são mais suculentos.
Quais técnicas você usa para desenhar?
Actualmente utilizo o Adobe Illustrator para desenhar, após ter feito um esboço a lápis sobre papel.
Quando e onde você publicou sua primeira caricatura?
As minhas primeiras publicações foram banda desenhada, na revista de BD “Visão”, em 1976. Comecei a publicar cartoon e caricatura mais tarde, a partir de 1986. Os meus primeiros cartoons editoriais foram publicados no “Jornal da FENPROF”, o jornal da Federação Nacional de Professores.
Onde você publica atualmente?
Os meus cartoons saem semanalmente no jornal Público e faço quinzenalmente um cartoon animado para o canal de televisão “RTP3″, com o grupo Spam Cartoon ( spamcartoon.com ). Publico também, sem regularidade definida, no Courrier International e no The New York Times, entre outros jornais e revistas. A partir de Abril começarei a publicar regularmente na revista francesa “Alternatives Economiques”.
O que é um dia de trabalho para você? Você se dedica exclusivamente à ilustração?
Dedico-me exclusivamente ao cartoon, ilustração e animação. O meu dia de trabalho não tem um padrão regular. A minha actividade divide-se entre leitura, recolha de informação, esboço de ideias, desenho no computador. E ainda organização do arquivo e… auto-secretariado (emails, contas, etc.). E a obrigatória sesta. E ainda o passeio com o meu cão, que me ajuda a pensar.
Existem revistas de humor gráfico em Portugal ou apenas algunas cartoons são publicadas em alguns jornais?
Neste momento não há revistas de humor gráfico em Portugal. Foram existindo algumas, desde o sec XIX até finais do sec XX, mas a maioria foi de curta duração. A dimensão do país nunca ajudou ao panorama editorial. E agora, com a presença da Internet, editar uma revista exclusivamente de humor gráfico é praticamente impossível.
A imprensa portuguesa dedica o espaço que merece ao cartoon ou não?
Há cada vez menos espaço na imprensa portuguesa, e na imprensa em geral, para o cartoon. Alegadamente por razões económicas, que muitas vezes servem apenas de justificação para o receio generalizado da sátira política. Além disso, está em curso uma revolução nos meios de comunicação, desde a chegada da Internet, à qual os cartunistas ainda estão a tentar adaptar-se.
Por que o humor e a sátira são importantes na sociedade?
A sátira estimula a reflexão da sociedade sobre si própria, abre-lhe os olhos e o pensamento. E o humor é um veículo fundamental, e universal, para esse estímulo.