A saga familiar dos Paz-Andrade, na sua vertente intelectual, galeguista, empreendedora, não começa com o mais conhecido, Valentin Paz-Andrade, senão que este já bebeu no seu tio, o poeta Xoan Bautista Andrade, tanto na poesia como no amor a Galiza e introduzi-lo no galeguismo mais comprometido e intelectual, apresentando-o a Alfonso Daniel R. Castelao, que sentiu por ele verdadeiro aprecio e consideração (foio alcumando de “o mozo” nos primeiros tempos, depois “berbiquí” polo seu empecinamento e finalmente “imortal” por sobrevivente á guerra da Marrocos e dous atentados em Verin e Vigo), a quem Valentin considerava irmão maior.
“A saga familiar dos Paz-Andrade, na sua vertente intelectual, galeguista, empreendedora, não começa com o mais conhecido, Valentin Paz-Andrade”
Valentín foi jurista, político, empresário, escritor, poeta, jornalista, dirigiu jornais, Académico da RAG, senador, co-fundador de Pescanova,… sempre ao serviço de Galiza, sofreu prisão, desterro e condenas por defender Galiza ou o porto de Vigo.
E a saga seguiu com seu único filho, Alfonso. Não deveu ser fácil a juventude de Alfonso num medio familiar tão tensionado pola política e polas atividades profissionais e intelectuais do pai e de seu próprio carácter.
Mas Alfonso foi digno filho de seu pai, bom estudante e socialmente comprometido, já estudante na Universidade de Compostela integrou o grupo de estudantes que protestou publicamente contra a dura repressão exercida contra dos labregos de Mazaricos. Rematou a carreira de Direito e pronto evidenciou modos e jeitos no mundo na empresa abrindo algum local para ócio de juventude viguesa.
Sua formação continuou em Inglaterra, na Universidade de Oxford, e numa intensa relação com pessoalidades da política, da empresa, da literatura e das ciências, especialmente desde o despacho de advogado de seu pai e da atividade que lhe exigia frequentes viagens ao estrangeiro, numa época na que a maioria do pessoal da sua geração apenas íamos mais aló de Portugal.
Inevitável que um homem do intelecto, curiosidade e predisposição para a atividade criadora como ele adquirisse todo conhecimento e sabedoria própria de aqueles vultos, que adoitava tratar com toda familiaridade e habitualidade, da política e intelectualidade galegas, companheiros de seu pai, que, com este, modelaram seu sentimento de entrega a Galiza e a seu futuro; também aqueles de sona internacional e sentimentos democráticos como Salvador de Madariaga ou Osorio Tafall.
“Alfonso falava com soltura e elegância, alem do galego e castelhano, o português e o inglês e outros idiomas”
Alfonso falava com soltura e elegância, alem do galego e castelhano, o português e o inglês e outros idiomas (em épocas nas que ninguém aqui conhecia idiomas forâneos) que, com seus viagens a diversos países, outorgavam-lhe uma aureola de homem de mundo, que encaixava perfeitamente com seu sentido do humor e falar pausado, expressão tranquila e seguridade em sim mesmo. E revelou-se um empresário industrial de primeiro nível em todo o que se relacionava, especialmente, com o mar.
Com apenas 30 anos, março dos 69, Alfonso fundou Ibercisa, uma empresa que é ponteira em maquinaria naval de coberta, arrastre, fondeo, pesca, oceanografia e soluções tecnológicas para todo tipo de embarcações, domiciliada em Vigo; ao ano seguinte incorporava-se á Direção de Pescanova, constituindo para esta empresa um pontal nas relações comerciais internacionais e na imaginativa política de criação de sociedades mistas que possibilitavam a pesca da empresa galega em águas estrangeiras.
No ano 1973 conseguiu trazer a Vigo (Bouças) a World Fishing, na que havia trabalhado nos anteriores cinco anos em Londres, o evento de maior projeção internacional celebrado até a data em Vigo (chegou a trazer em duro franquismo máximas autoridades soviéticas em matéria de pesca), nomeado presidente do Comité executivo posteriormente.
Alfonso estevo ligado ao nascimento e vida de vários jornais, mas sentia-se realizado, especialmente, com a Revista IP (Indústrias Pesqueras), da que ele era Diretor desde o falecimento de seu pai, quem á sua vez havia assumido a direção desde 1942, e na que publicava mensalmente um Editorial, que deveria ser de leitura obrigada para todos, políticos e empresários, que se relacionam com o mundo da pesca.
“Alfonso estevo ligado ao nascimento e vida de vários jornais, mas sentia-se realizado, especialmente, com a Revista IP (Indústrias Pesqueras), da que ele era Diretor desde o falecimento de seu pai”
Resultaria prolixo, e impossível, num artigo de imprensa recolher toda a vida pública de Alfonso, membro de várias associações de pesca, Zona Franca, Porto de Vigo, do Conselho da Cultura Galega, das Fundações Castelao, Neira Vilas, Luis Seoane, Galicia-Europa, Sales, etc. E que nos deixou orfos da sua sempre leal amizade, medido conseho e imaginativa opinião, há poucos dias, quando a felicidade voltava á sua vida sem nubes de injustas treboadas.
Importante e esperançador é que a saga continua nos seus filhos Valente e Sabela e que o facho segue aceso da mão de sua viúva, a irlandesa-galega (duas nações celtas) Elisabeth Taylor, fundadora e presidenta da Fundación Sales. Segue a ilusão.
Quinta do limoeiro, julho 2021.