O dia 20 de novembro é o dia internacional da Declaração dos Direitos das Crianças, aprovada pela ONU no ano 1989 e ratificada pelo Parlamento espanhol o 26 de janeiro de 1990. Nos artigos 18, 19 e 20 da mesma diz-se: «Se um menino não tem pais, tem que haver alguêm que se ocupe de ele. Se os pais duma criança trabalham, alguêm tem que atende-la enquanto estão trabalhando. Ninguêm pode descuidar, abandoar, maltratar ou explorar uma criança, nem atuar com violência sobre ela. Se uma criança não pode ficar com a sua família, tem que ir viver com alguêm que se ocupe dela». Estes artigos tão significativos vão server para o comentário deste meu depoimentoo. Os 42 artigos que integram a Declaração, que foi aceite por muitos países do mundo, recolhem outros muitos temas relacionados com as crianças: a sua saúde, a sua educação, o seu bem-estar…Todos eles são interessantes e muito lindos se se respeitam na prática, o que infelizmente não acontece em muitos recantos do Planeta Azul. É o mesmo que o evangelho cristião, que é muito mais formoso se se leva à prática na vida de povos e pessoas, pelos diferentes cidadãos. Mas o mundo está mau repartido, e quando falamos de crianças aínda mais. Em Ocidente, com uma perda de valores galopante, com muita miséria mental (que é a pior das misérias) enorme, os rapazes têm de tudo, mas não valorizam nada, precisamente por ter tanto. São pouco felizes, não sabem jogar nem diverter-se. Como dizia a minha mãe Rosa, o que têm é muita naturria. Por outra parte, há um problema que deveria preocupar-nos a todos: não nascem crianças, porque, por comodidade ou outras rações, os pais não querem ter filhos. Alguns preferem levar um cancinho tirado dum cordel, que um menino ou menina no seu colo. A baixa natalidade, por exemplo, nas províncias de Ourense e Lugo, no caso da Galiza, é para mim o maior de todos os problemas que temos. Ao que, com urgência devemos pór remédio.
Se comparamos o nosso grave problema de ínfima natalidade com a realidade doutros países em outros continentes, no que se refere ao mundo das crianças, encontramos situações diversas e algumas colocadas em polos opostos. Conheço Bangladesh, por estar em aquele lindo país asiático por duas vezes durante um certo tempo. A última nos primeiros meses do ano 2012. Bangladesh não é, pela sua natureza e as suas matérias primas, um país pobre. O que se passa é que tem uma grande superpopulação, para a extensão do seu território habitável. Nascem crianças como fungos, não há qualquer controlo da natalidade. Os pais, muito ao seu pesar, têm que abandoar os filhos por não ter para dar-lhes de comer e poder manté-los. Não os vão matar, como antigamente se fazia com os gatos tirados ao rio metidos num saco. Pelas ruas de Daca há infinidade de crianças que não conhecem seus pais. Hoje existem muitas ONGs que mantém escolas e casas de acolhida para estas crianças. Eu gostaria de abrir lá uma escola para, com ajuda de nossas ONGs e pessoas particulares, poder colocar o meu grau de areia, para ajudar a algumas crianças bangladeshis que vivem esta grave situação. Crianças que, ademais de muito lindas, e apesares de estar sem pais e sem recursos, são agradáveis, alegres, educadas, bondadosas e muito agradecidas. Com 300 euros ao mês se pode manter uma escola para mais de cem crianças. Com esta quantidade chega para o pagamento do aluguer do local, honorários dos mestres, comida e alojamento dos rapazes e os gastos correntes (luz, gas, água…). E logo em Europa queixamo-nos! Noutro país tão lindo e tão próximo, lingüísticamente falando, como Cabo Verde, quase todos os rapazes têm um posto escolar. Mas o seu grave problema é não ter água potável ou ter muito pouca. Na ilha de Santiago (na que está a capital da República caboverdiana), estivem no mês de outubro de 2009 durante uma semana. Alí comprovei que 17 escolas de primária de toda uma comarca necessitavam com urgência ajuda para poder comprar um camião-cisterna para levar-lhes água potável e calmar assim a sua sede e manter a sua higiene. Seria tão difícil organizar uma campanha solidária popular para recadar fundos para comprar-lhes um camião que necessitavam urgentemente? Neste momento encóntro-me na Bengala indiana, na formosa localidade tagoreana de Santiniketon. Há muitos poucos anos que se aprovou pelo Parlamento de Deli uma lei geral pela que se estabelece na Índia a escolarização obrigatória e gratuíta de todas as crianças em idade escolar. Mas aínda hão passar muitos anos para que seja efeitiva na sua totalidade, embora ser este país o que mais progressa economicamente do mundo. Aquí mesmo onde estou há muitas aldeias dos povos primitivos Santales, nos que não chegam a ter escola mais do 20 por cento dos meninos e é necessário abrir muitas escolas para escolarizar a todos. O que não teria muito custo, pois poderiam dar-se as aulas ao ar livre e só haveria os gastos dos honorários do mestre e materiais escolares fundamentais (livros, cadernos e lápizes). Mas, o mais grave é o baixíssimo índice de escolarização das meninas. Tema da maior urgência em Índia, pois as mulheres continuam numa injusta marginação.
Inmerecida e imoral, sendo como é tão importante que as meninas vaiam à escola e se alfabetizem. Aspecto tão vital que também é um grande problema na maioria dos países árabes e africanos. Outro dia teriamos que comentar a situação extrema na que vivem os rapazes em países com conflitos bélicos. Crianças que não conhecem, desde que nasceram, outra realidade que não fosse a da guerra. Os filmes «A Pizarra» e «Buda, exploriu por vergonha» são modélicos na apresentação destes problemas. E «Moolandé» do senegalês Sembene Ousmane, exemplo da barbaridade que se comete com as meninas de alguns países do centro da África. Onde por desgraça aínda se pratica a ablação (eliminação do clítoris nas meninas).