Leo no Novas do Eixo Atlântico um artigo autocomplacente sobre o avanço nos Julgados do uso da nossa fala nacional mercede á lavoura da Irmandade Xurídica Galega; sem restar importância a essa Associação que coesiona os esforços que no âmbito jurídico se realizam para galeguizar os julgados, penso que a atitude em geral dentro de esse coletivo segue a ser desfavorável ao uso do galego quando não notoriamente oposto. E devemos reconhecê-lo, ainda que nos doa. Desconheço quales som as atividades dessa Irmandade Xurídica Galega, mas o que sim me consta é que nem noticias dela teve nos diversos conflitos que sofrem nos julgados polo meu emprego constante e único da língua própria de Galiza; apanhei-me só, melhor ou pior. Há muitos problemas para normalizar o uso do galego na justiça, problemas próprios da sociedade na que vivemos, de que os juízes entendem que rebaixariam seu status se empregassem uma língua de segunda, uma língua “proletária” acrescentado póla dificuldade que lhes supõe a leitura no idioma distinto ao do império que é no que estudaram, no que se desenvolvem nas suas relações sociais e profissionais, no que consultam os textos legais, nos que lhe chega a jurisprudência, etc. Com os advogados também influi o desconhecimento, a dificuldade ao redigir os escritos forenses e ter perdido seu sentimento de povo culto para submeter-se a outra cultura que também consideram de primeira. E os Colégios de Advogados se desentendem por completo do problema (que é um direito) idiomático por comodidade e porque tampouco querem problemas com a judicatura; preferem ser desertores da língua que abrir vias de atuação neste tema com juízes e com seus próprios colegiados.
Há poucos dias teve um exemplo na Festa do Colégio de Advogados de Vigo, na que passaram polo estrado oito colegiados, a Decana mais sete agasalhados por cumprir 40 anos de colegiação, e nengum falou em galego, nem o magnífico coro, constituído por vozes de colegiados, que das quatro peças com que nos deleitou todas as quatro foram em espanhol, mas o “Gaudeamus igitur”, naturalmente em latim. Na mesma festa do ano passado, também de sete ou oito homenageados só um, pelo menos um, se exprimiu em galego. Eram galegos, ou polo menos levavam mais de quarenta anos em Vigo, um deles passara os vinte-cinco primeiros anos como advogado em Castro Caldelas.
Naturalmente cada quem pode fazer a escolha idiomática que prefira, escolha que efetivamente o retrata. Mas dentro de essa escolha parece que deveríamos identificarmos com o idioma da nossa terra, com o idioma da nossa tribo, com o idioma que se falou em todos os séculos anteriores, que evoluiu para o português, o brasileiro, o angolano, etc., um mesmo idioma com suas particularidades e que é idioma de respeito, literário e de cultura, a quarta língua mais falada no mundo, com seu prêmios Nobel em literatura e seus magníficos escritores cujo conhecimento nos permite lê-los na sua redação original. Cada quem pode fazer sua escolha, mas parece que por respeito ao povo onde muitos nasceram e outros polo menos pascerem dever-lhe-iam o agasalho de exprimir-se nesse ato público no seu idioma. O ocorrido também reflete o talante do coletivo de advogados vigueses; um Colégio afastado do espírito do povo, pois nesta cidade, se bem não majoritariamente, ainda se fala galego, o mesmo idioma que falavam os que partindo de uma aldeia de pescadores , em diversas gerações, chegarem a construir esta grande urbe; o idioma que segue a ser de grandes manifestações culturais. Se a própria advocacia, a nível individual e coletivamente representada polo seu Colégio é incapaz ou se desinteressa ou não o considera importante manifestar-se no idioma próprio da Galiza, como podemos esperar que seja defensora do direito estatutário para que todos os cidadãos podam utiliza-lo?
Discrepa esta atitude do argumento comum em todos os que ali falaram: fazer direito, ser defensores. Assim não se defende nada, se eres excluem-te e começas por excluir teu idioma, o idioma do teu povo porque, colonizadamente, consideras superior e merecem-te de mais aprecio o idioma do colonizador.
Não sei se a escolha linguística e o contido dos diferentes parlamentos era o politicamente correto ou o que se considerava adequado para um dia de xoldra e até de retranca. As declarações de amizade do coletivo de advogados para com os juízes evidenciavam a real existência de mau estar, pois de ser certa essa amizade não era preciso saca-la como cartaz reiterado. Começando porque juízes e advogados não interatuam num plano de igualdade, polo que o advogado sempre tem que submeter-se ao critério do juiz, ainda que com posterioridade poda reclamar (desaconselhado). E seguindo porque é interessado para os Colégios de Advogados aparentarem essas boas relações porque assim justificam a sua inoperância fronte a atuações irrespeitosas ou queixas que podam realizar os colegiados do trato em casos determinados.. Reconheço que há muitos anos que sou crítico com os Colégios de Advogados e a minha vida colegial se limita a pagar as quotas e intervir só em aquelas Comissões de interesse para a cidadania. Convencido da sua inutilidade. Fui vários anos deputado no Colégio de Ourense, cofundador e colaborador do Boletim Informativo do mesmo Colégio, integrei o grupo intercolegial para a criação do Conselho da Advocacia Galega, etc. naqueles Colégios que constituíam uma fervura de inquietudes por lograr um pais melhor na procura dos direitos dos cidadãos, onde realmente se discutia entre os que defendiam o estabelecido e os que pretendíamos mudar para ir mais alem e devolver á cidadania (daquela, polo menos, ainda não éramos súbditos reais) e aos povos os direitos que lhes correspondiam, alem dos indiferentes que tomavam ou não partido. Defendíamos com dignidade o Direito, não só os problemas internos corporativos (por se me retrucassem aclarar que lutas que podem semelhar a favor dos litigantes tenham um importante contido corporativo, como as taxas judiciais que ao encarecer o pleito influem na decisão de inicia-lo). Defendíamos as liberdades dos povos e dos cidadãos.