Polo que eu sei, ainda que desconfio da historiografía española, o grande monarca que esquilmou Castilha e outros povos da península Ibérica para satisfacer sua cobiza e seus delirios de grandeza em Europa, Carlos V, pouco inquietou a Catalunya; tampouco Felipe II mais entusiasmado com seus direitos sobre Portugal, incluso sobre Inglaterra, e amparado no ouro e prata que chegavam das Américas, conferindo a Catalunya status de Estado autónomo. Forom novas circunstancias as que atopou Felipe III, com a grande crise económica, a Guerra dos Trinta Anos, a perda de varias posesiões em Ultramar, que virou a mirada para Catalunya para recrutar homes e recadar dinheiro. Mas ainda foi muito pior seu filho, Felipe IV, que cedeu a França, sem conhezimento e pese á posterior oposição das instituções catalanas, a Catalunya ultrapirenaica, partindo o territorio catalán, em troques de que se lhe permitira conservar Flandes para seu decadente Imperio; envía as tropas reais contra Catalunya e depois de longa campanha entra em outubro de 1652 a sangue e fogo em Barcelona, afogada pola peste, o exercito real capitaneado por D. Juan de Austria, filho bastardo do rei. Finam os Austrias e chega outro Felipe, mas este Borbón, que case fai bons a seus anteriores homónimos, que invadiu Catalunya, asediou por mais de 14 meses a Barcelona, destruiu 1/3 da cidade no impiadoso asalto final no que os barceloneses só pediam para evitalo que se respetasem seu foros, petição que foi negada polo general francés que chefiava as tropas reais no asalto e que em definitiva foi ratificada polo proprio rei nos chamados Decretos de Nueva Planta que abolían as instituições e liberdades civis catalanas. Agora atopamonos com outro Felipe, o VI, cujo governo, por boca da sua ministra de defesa já ameaçou com o exército e todos somos testemunhas das ameaças económicas, judiciais, e de força, tanto por parte da policía como, ao parecer, tambem de intervenção do exercito e de suspensão da autonomía, naturalmente, se se suspende a autonomía, implica a abolição das instituições catalanas (as liberdades já as tenhem suspendidas ao impedir-lhes manifestaren-se mediante uma votação).
Não som os Felipes especialmente proclives ao catalanismo.
Os meios som terrivelmente tendenciosos, seguindo fidelmente as consignas gubernamentais; empregam qualquera tipo de argumento ainda a costa de deturpá-lo. Machuconamente insistem num argumentário plano e impedem que se fagam públicos os argumentos contrarios com a censura á TV3; para eles o que vale aquí não vale em Venezuela. A Historiografia espanhola fica viciada e adulterada para conseguir a ideia da sacrosanta unidade desde o comezo dos tempos e asim, no caso concreto de Catalunya, negam que em alguma altura pudese ter existido una Catalunya autónoma e soberana.
O argumento para mim é indiferente, pois bastaría para ter direito a obter a soberanía o sentimento maioritario soberanista numa sociedade ou comunidade com seu territorio, sua lingua, seu jeito de organizar-se, seus recursos, evidenciado públicamente a través do tempo, ainda que não houvesse obtido o autogoverno em nemgum momento da historia. Mas tampouco é certo que Catalunya nunca fose soberana.
Um breve e somero recorrido pola historia de Catalunya esclarece-nos que os territorios do norte da actual Catalunya formavam parte da provincia romana Hispania Citerior, depois Tarraconense, e pasaron por diversos avatares entre eles constituir o reino visigótico com Ataulfo á cabeza e sua esposa Gala Placidia com capital em Tarraco (autonomía e independencia); com posterioridade á conquista polos mouros formou parte da Marca Hispánica carolingia. No S. IX o monarca carolingio nomea Wifredo el Velloso conde de Cerdaña, de Barcelona e de Girona, e transmítelhe o governo do territorio catalám, quem á sua vez o transmite a seus descedentes polo que no S. X os condados convertironse em indepedentes do poder carolingio, rompendo o débil elo existente com a monarquia Carolingia o conde Borrel II ao negarse oficialmente a prestar juramento ao monarca que naquela altura era o primeiro da dinastía dos Capetos. No S. XI Catalunya é uma sociedade feudal integrada por varios condados com un Estado feudal autónomo no cumio do que se atopava o Conde de Barcelona, Ramón Berenguer I, continuado nos seus descendentes que vincularon a todos os demais condados catalanes ao Condado de Barcelona; até que ja no S. XII, governando o conde Ramón Berenguer IV casa com Petronila de Aragón, filha do rei de Aragón Ramiro quem renuncia a seu reino e á sua filha a favor de Ramón Berenguer IV como prínceps de Aragón (nas Capitulações de Barbastro o rei Ramiro manifesta que “otorgo y concedo todo aquello que me había reservado en aquella misma carta de donación que le había hecho inicialmente (ao Conde de Bracelona) al entregarle a mi hija”) o que não impede que tanto Catalunya como Aragón conservem seus orgaos de governo, costumes, leis, privilegios, etc., pois não chega a existir nem absorção nem fusião nem conquista senão o que podemos calificar como una união dinástica do Condado de Barcelona e o reino de Aragón. Em 1188 a assembleia Paz i Tregua, germen das Cortes Catalanas que se constituirám com a denominação de Generalitat em 1365, estabelecem sua exclusiva jurisdição no territorio que delimitam e que pasa a chamarse Principado de Catalunya; certamente a dinastia autóctona dos Condes de Barcelona finou com a morte do Conde de Barcelona e tambem rei de Aragon Martin I el Humano em 1410 e a chegada da Casa de Trastamara creou problemas institucionais e idiomáticos com Catalunya; as instituições políticas catalanas forom reformadas em 1486 por Fernando II de Aragón.
A vida política catalana com Carlos V e com Felipe II foi uma etapa tranquila, mais interesados nos seus delirios de grandeza com o Sacro Imperio Romano Germánico um e com seus intentos sobre Portugal e Inglaterra o outro, ainda que aquí comeza a crise económica (é o primeiro Felipe). Com Felipe III (o segundo Felipe) agrava-se a crise e comeza a Guerra dos Trinta Anos. A política centralista e anticatalanista de Felipe IV (o terceiro Felipe) unida á crise económica provocou em 1640 a sublevação de Catalunya em plena guerra dos trinta anos. Em outubro de 1652, don Juan de Austria (filho bastardo de Felipe IV) ao frente das tropas castelhanas entra a sangue e fogo em Barcelona. Dispondo de Catalunya como se fose seu cortijo, Felipe IV acepta a divissão do territorio catalán (ao norde e sul dos Prineos), em contra da vontade das instituções catalanas, cedendo a França os territorios catalans do norde a cambio de conservar Flandes. Mudamos de Dinastia e chegam os Borbons com Felipe V (cuarto Felipe) que invadiu todo o territorio catalám e Barcelona capitulou o 11-09-1714 e em 1716 dita o Decreto de Nova Planta que significou a abolição das institutuições e liberdades civiles catalanas. Ja só nos falta o quinto Felipe, o VI; aí chegaremos
Durante o reinado de Fernando VII houvo varias sublevações da sociedade catalana e nasceu a ideia republicana. E no chamado sexenio revolucionario (1868-1874) forom varios os intentos separatistas e de vertebração do catalanismo como movimiento político, chegando em 1872 a aprobar as Bases para a Constituição Regional Catalana em assembleia celebrada en Manresa; em 1888 apresetarom um escrito á Rainha Regente pedindo autonomía política para Cataluña.
O evoluir nos séculos XX e o que vai do XXI segue a mesma tónica de rebeldia. Alfonso XIII em 1909 realiza uma represão durísima e arbitraria com 17 sentenças de morte e 5 executados, na chamada Semana Trágica. Em 1931 Maciá proclama a República Catalana. Em 1934 Companys proclama o Estado Catalán dentro da República Federal Espanhola. Nem falamos do deostado regime franquista. E nesta chamada democracia, aprovanse inicialmente uns Estatutos de Autonomia claramente insufientes para as demandas catalanas; ante o evidente descontento, cada vez mais notorio, o Parlamente catalán aprovou o novo texto estatutario por um 91,85% de seus membros que lhe foi prometido sería refrendado polo Congreso, mas o certo é que o texto aprobado e apresentado para ratificação ao Parlamento de Espanha con os votos do PP foi manifestamente recortado e ainda assím o texto resultante foi recorrido ao TC polo PP, ditando aquele tribunal a sentença de 28-03-10 reducindo ao mínimo o texto inicial. O descontento de Catalunya foi extraordinario e acabou desembocando nos acontecimento que todos estamos vivindo. A falacia é que o Estado espanhol, mediante as carpetovetónicas forças da direita e parte da esquerda culpabilizam á sociedade e governos catalans de que a consulta ao povo é ilegal porque debe seguir o vieiro marcado pola lei. Cual vieiro Sres. Constitucionalistas?; se fecham as portas para uma consulta que chamam legal, cual é o caminho? Quando o intentaron em acções anteriores só obtiverom traições e incumprimentos por parte do Parlamento español. Que precisa o Estado espanhol, os cidadaos espanhois, para compreender a vontade de liberdade e de autogoverno do povo catalán que segue sem ser escoitado e que só foi reprimido, enganado e masacrado em aras de esa pretendida unidade de Espanha? Não seria muito mais inteligente darl-he a oportunidade, tam reiteradamente intentada, de manifestar seus sentimentos respecto de seu futuro? E para os que acudem á historia só perguntar se de todo o percurso histórico de Catalunya, com soberanía ou sem ela, não resulta claro seu malestar na convivencia com “Espanha”? Não resulta claro que quando não tenhem liberdade e soberanía a procuram incluso a custa da sua propia vida? Reflexionemos, se Catalunya quere conquistar sua total soberanía, temos direito a negarlha? Regulemos a desconexión e tratemos de manter os lazos de amizade e colaboração que nos exigem tantos anos de convivencia. Se existe hispanofobia suponho que se acrescentará depois de esta aldraxe, este menosprezo, esta opressão, este vexame, esta ameaza contra os que democráticamente querem manifestar seus desejos. Muito longe ficamos de restablecer a concordia entre nós com a agressão do governo de Felipe VI (o quinto) contra Catalunya.