Desde tempos moços, e já porque o inculcaram meus pais, mestres republicanos, vivi em contato com a cultura e apaixonado polos livros, ao longo da minha vida formei uma importante biblioteca profissional (atualmente em grande parte obsoleta) e outra de temática diversa (pintura, literatura, filosofia, etc.) especializada em literatura e arte galega, portuguesa, espanhola e universal, arredor de 6.000 volumes, biblioteca esta que há tempo tinha decidido doar a uma biblioteca pública; ainda que algumas tinham mostrado seu interesse, ofertei em primeiro lugar á Biblioteca de Viana do Bolo, por motivos puramente sentimentais; o Pleno Municipal aceitou a oferta e plasmou-se a doação em escritura pública; não buscava nenhuma contraprestação, só a satisfação de que minha querida biblioteca ficas e fosse de utilidade a meu povo de nascença.
Ainda que fixem algumas entregas parciais de livros, dada minha idade considerei que o mais prudente era realizar uma entrega inicial de a metade (uns 3.000 volumes e revistas) e assim o comuniquei ao Alcalde em janeiro do passado ano para que procedesse a organizar a retirada do seu emprazamento em Ourense; ainda que prometeu faze-lo de imediato deu largas e incluso chegou a cortar todo contato comigo, impedindo com esse proceder que seus vizinhos pudesse servir-se de esses livros. Passou o tempo, nem Alcalde nem sociedade civil vianesa deu o mínimo passo para a retirada dos livros pese a meus recordatórios e teve que, em dezembro do passado ano, contratar uma empresa para que, pola minha conta, retirasse e transportasse os livros á Biblioteca municipal de Viana do Bolo. Nenhum apreço nem consideração.
Minha tradição familiar e patrimonial é com o concelho de Pereiro de Aguiar, lugar de Chaodarcas, e ao Sr. Alcalde ofertei igualmente, á sua escolha, fora da doação anterior ou duplicados, vários livros de especial interesse, sem obter nem a cortesia de uma resposta.
“Minha tradição familiar e patrimonial é com o concelho de Pereiro de Aguiar, lugar de Chaodarcas”
Entre meus livros há um muito particular, pouco mais de um opúsculo encadernado e de finais do S. XIX que relata a detenção em Portugal (Porto) de um guerrilheiro carlista, sua condução até Celanova e sua execução em garrote vil no cárcere celanovense, assim como o texto da carta que escreveu na última noite para sua mulher e filho. Pareceu-me interessante documento para o Concelho de Celanova. Ofertei-lo a seu Alcalde que não teve nem a elegância de uma resposta.
Estas três anedotas deram-me a medida da indiferença e desleixo da cultura no rural, em mãos de Alcaldes para os que a cultura não se traduz em votos.
Quinta do Limoeiro, janeiro 2.025.