Sou Vianense, Monção pertence ao meu distrito, e contra mim falo, quando percebo que demorei tantos anos a descobrir esta maravilha do nosso país. Sendo mais correto, toda a zona da Raia minhota me fascina, mas não escondo, particularmente Monção.
As montanhas e vales imensos mantém sempre a natureza por perto, as muralhas parecem proteger-me da inquietude do dia a dia, a gastronomia anestesia-me, os banhos nas termas relaxam-me, o deambular pelas pitorescas vielas aconchega-me, as surpresas parecem não ter fim e as pessoas tocam-me.
O Rio Minho acompanha-me ao longo dum prazeroso passeio por cuidados passadiços de madeira, perfeitamente esculpidos, conduzindo-me ao interior da vila, muralhada, que tão belos segredos esconde. A receita é simples, desfrutar de cada pormenor, seja sentado num banco da Praça Deu-la-Deu ou numa esplanada com um copo de Alvarinho na mão. É possível passar horas neste exercício contemplativo, escutando o português galego das gentes da terra, espreitando a cumplicidade das pessoas, num lugar onde todos se parecem conhecer. Monção tem vida e quer partilhá-la com todos, tal como o faz com as suas tradições. A Feira da Foda (que delícia de prato), o Rally da Lampreia (para quem aprecia…), a Feira do Alvarinho (é preciso opinar?) e um sem fim de eventos que revelam um pouco mais da alma desta terra.
“Monção tem vida e quer partilhá-la com todos, tal como o faz com as suas tradições”
Com tempo, arrisquei deixar a proteção das muralhas e parti à descoberta de novos adjetivos, correndo o risco de ficar ainda mais preso a este lugar. Tal como temia, foi precisamente isso que aconteceu.
Caminhei por uma pequena rota de velhos moinhos até me deparar com a fresca e surpreendente Cascata do Fojo, na freguesia de A Lara. Viajei no tempo e na história ao conhecer os recantos e curiosidades do impactante Palácio da Brejoeira.
Calcorreei mais um cuidado passadiço até chegar ao ponto setentrional de Portugal: Cevide. No pequeno lugar de Lapela, vi uma torre de menagem erguer-se por entre os telhados das casas deste lugarejo. E o que dizer da Branda de Santo António de Val de Poldros, perdida.
no alto duma gigante montanha, com as suas casas de pedra, perfeitamente imperfeitas, tão graciosas, que convidam a lá permanecer, sem nada mais além do que aquela paz?
Cabe tanto neste nome: Monção.
Rui Passos, escritor, publicou na Revista “Mais Guimarães” de Abril 2023.