Floreiras.

Assim, em femenino, define o Dicionario da Lingua portuguesa, Porto Editora (que é o que eu emprego) “o vaso onde se colocam flores”. Estes días nos noticieros desfiarom bom número de esta “floreiras”, mulheres inútiles, sem outro objecto que o de adornar a seu home. Lamentavelmente, sem pudor algún, oferecerom a toda a sociedade do Estado español, mas tambem aos leitores em Europa e ainda mais longe, sua imagen de mulher tonta, dependente, sometida.

Paradigmaticamente podemos mencionar a uma que polo visto (avisado leitor, ten-me que desculpar, mas eu sou republicano e a única monarquia que conhezim na mina juventude foi a da baralha, agora não jogo) tiduase “infanta” por pertencer á Casa Real Espanhola (agora parece que só á familia Real) e outra que foi incluso Ministra de Sanidade e ainda outra mais, extelefonista e de oficio esposa de Luis Bárcenas. Lamentavel espectáculo público de duas mulheres da elite afirmando manseniñamente e até com resignada conformidade desconhezer todo o que pasava na sua casa porque o dirigente era o marido, de quem não recebiam nemguma explicação nem comunicação, a quem nada perguntavam (nem polo dinheiro para comprar um palacete de sete milhões nem as festas, viagens e automoveis de alta gama que apareciam na garagem) e a terceira afirmando igualmente a total confianza no seu home que viaxava a Suiça e a deixava na Sala de espera do Banco mentras ingresava 40 milhoes de euros, sem que ela soubese a que ia alí. As tres inocentes. Vemos o que pasou com a infanta Cristina, veremos o que vai pasar com Ana Mato e aí sim que já veremos o que pasará com Rosalia Iglesias.

“Vemos o que pasou com a infanta Cristina, veremos o que vai pasar com Ana Mato e aí sim que já veremos o que pasará com Rosalia Iglesias”

Porque a Lei é igual para todos os iguais; evidentemente o campones e o operario som iguais entre eles, mas não som iguais ao médico, engenheiro, auditor ou advogado e estes não som iguais aos políticos e dentro destes tampouco som iguais entre sim, senom dependendo da categoria e, desde logo, ninguem é igual á chamada “nobleza” e muito menos á familia real. Isabel Pantoja não estava incluida entre os iguais da nobleza nem entre os iguais da politica, so entre os iguais das folcloricas; e assim lhe foi.

Porque se lamentavel é escoitar a estas mulheres dizer que praticamente som inuteis floreiras, dependentes de seus maridos (bem entendido que a infanta é Lic. em Ciencias Políticas e dirige uma Fundação da Caixa e que a ex-ministra é também lic. em C. Políticas e Sociologia e incluso profesora na UNED, se bem a senhora de Bárcenas foi simple telefonísta), muito mais é comprovar que a excusa é aceptada polos tribunais de justiça. A Infanta e a ex-ministra ao ser case iguais penso que se medirám polo mismo raseiro, o que ja não sei que pasará com Rosalia que é igual pero com outros, diferentes ás anteriores. Todo dentro da mais estrictas normas jurídicas. E se protestas, tambem dentro das tuas competencias, podem trasladarte de posto de trabalho, destituirte, inabilitarte, aplicarte a Lei Mordaza ou investigar teu patrimonio (tranqui, se eres evasor pode ser que te julguem, mas teu dinheiro sempre estará a salvo).

Desde logo não vejo á Infanta nem a ex-ministra encabezando uma manifestação feminista nem reivindicando direitos para as mulheres nem numa concentração antifeminicidios, a não ser que assim o disponha o guião. Sinto noxo de quem é capaz de reduzir o papel da mulher na familia e na sociedade a simples comparsas ou meras sometidas aos designios do macho, seja ou não ilustrado (não parece que o ex-duque fora muito ilustrado, ainda que sím “listilho”).

“não vejo á Infanta nem a ex-ministra encabezando uma manifestação feminista nem reivindicando direitos para as mulheres nem numa concentração antifeminicidios”

Que diferentes as “pobres” mulheres camponesas galegas! Atendiam a casa, coidavam da familia, educavam aos filhos, trabalhavam a horta, ajudavam nas labouras do campo, lavavam a roupa, faciam o caldo e, chegado o caso, asumiam a responsabilidade total da familia (aquelas viuvas de vivos e mortos), pese á sua invisibilidade legal até o ano 1975, em que precisava da licenza marital para complementar sua capacidade legal. Pois bem, com a capacidade legal limitada polo Código civil, nunca no meu escritorio se asinou um contrato de venda, aluguer, dominical, etc. em que o home, o que em realidade encabezava o contrato e asinava, advertise que antes ia consultar com sua patrona; sempre a opinião da mulher era escoitada e maioritariamente aceptada em toda a realidade contractual no rural.

Se mulheres de relevancia social não tenhem escrupulos em afirmar publicamente (ainda que seja buscando um caminho de defesa, aquelo de Enrique de Navarra de que “París bien vale una misa”) sua dependencia do marido, seu desconhezimento da economia familiar (alem de que elas mesmas contribuam a dita economia), sua ignorancia do uso dos bens familiares e da procedencia do dinheiro para viver e adquirir bens… o movimento feminista precisa de um reforzo, não na sua actividade senom de psicologos e psiquiatras para pôr em tratamento a todas as herdeiras de aquelas que na II República estavam em contra do sufragio universal. Sem esquecer que esse esquema mental, inventado ou não para o caso concreto, resulta asumido juridicamente e tambem numa parte importante da sociedade que se reflicte incluso em comentaristas de opinião de imprensa e TV.

Não sei que tratamento haverá que aplicar aos que aceptam como normais essas condutas, se bem o de hoje não poderá imputarse a machismo ou paternalismo (home, no caso do Fiscal…) senão a uma vissão uniforme femenina, ainda que, afortunamente, não generalizada.

E se resulta recusavel todo isse montagem, se cabe ainda mais o significado reiterado em todos os ámbitos de governo de desprecio cara da opinião pública, de fazer o que lhes peta sem preocuparse do que pensa a cidadania, de governar (os tres poderes governam, não só o executivo) com total desprecio aos direitos humanos, á igualdade no trato, ás necessidades da população. Não me sinto discriminado, que tambem, sintome totalmente despreciado polos tres poderes, como um servo da gleba sem opinião, sem direitos e sem liberdade; só que os servos, que eu saiba, não pagavam impostos.

Advogado. Ourense - Vigo - Porto