Galego-portugues.

A língua galega sofre cada vez mais uma erosão abafante da língua castelhana, incluso para aquelas pessoas que a utilizam a cotio ou com frequência, pois de jeito inconsciente tomamos palavras do uso, muitas vezes inevitável, que fazemos do idioma espanhol. O conformismo, a submissão política e cultural e a determinante influencia econômica do poder colonizado sobre a educação e os médios de difusão provocam por uma parte o evidente abandono da fala e por outra, tanto na conversa como nas publicações, a substituição cada vez mais frequente pola palavra ou a estrutura da frase castelhana. Diferenciava Carvalho Calero o galego-português ou o galego-castelhano, porque, certamente, o galego se submerge no castelhano ou se salva com o português, mantendo-se dentro da lusofonia.

O galego era idioma indiscutido na Idade Media na grande parte ocidental da Ibéria Cristiana e foi cedendo território a favor do castelhano para reduzir-se á Gallãecia que depois da separação de Portugal teve um evoluir proprio no novo reino, mas desde que se suscitou a desatinada discussão sobre a independência idiomática, os mais preclaros vultos da intelectualidade linguística, já desde P. Feijoo e P. Sarmiento defenderam a unidade idiomática, no tronco comum do lusismo, sem prejuízo de peculiaridades nos diversos territórios onde se fala.

D. Ricardo Carvalho Calero manteve a coerência histórico-linguística do idioma, defendendo a sua unidade e teses etimologistas, mantendo a bandeira das propostas reintegracionistas e convertendo-se por méritos próprios e póla inquina dos isolacionistas em referente essencial do movimento que toma cada vez mais força no entendimento da gente que procura a supervivência do idioma no seno do tronco idiomático de que procede.

D. Ricardo foi um home que desde neno despontou nos estudos e na sua capacidade e tenacidade para aprender, rematou na Universidade compostelam a carreira de Direito e três anos mais tarde a de Filosofia e Letras, opositou com êxito ao Concelho de Ferrol, foi agregado no Liceo Rosalía de Castro e quando concorria ás provas para Professor de Instituto, em Madrid, surpreendeu-o a rebelião franquista, integrando-se no exército leal ao governo constitucional da República, em defesa de Madrid e logo em Valencia, onde ao final foi detido encarcerado e condenado a 12 anos de prisão por separatista. Compaginou estudos com uma frenética atividade literária e política, entrou em contato com o galeguismo e foi fundador do Partido Galeguista, presidente da FUE, participou em todo o ativismo estudantil da sua época em Compostela, membro das Irmandades da Fala, colaborou na redação e campanha do Estatuto, publicou poemas inicialmente em castelhano e posteriormente em galego (idioma que já nunca abandonou).

Recuperada a liberdade (condicional) em 1.941 retomou contactos com os galeguistas, porque o valor e a determinação nas suas ideias era evidente, foi diretor do Colégio Fingoy e ao remate obtém por oposição a Cátedra de Linguística e Literatura Galega da USC, recém-criada. Nada lhe foi regalado, tudo o conseguiu com seu esforço, sem demitir em nengum momento do seu forte sentimento patriótico e seus convencimentos intelectuais. Entre muitíssimas obras de todas matérias (foi um importantíssimo polígrafo) destacaria a Historia da Literatura Galega Contemporânea, o estudo mais importante sobre a historiografia da nossa língua, e Scorpio, que define um antes e um depois da narrativa galega.

Foi um sofredor que ainda nos últimos anos sofreu o desprezo e proscrição pessoal dos seus próprios colegas e amigos no galeguismo, por defender razoadamente a integridade do galego no tronco linguístico da lusofonia. Invejosos, enanos mentais, mandarins do poder político e intelectuais de pacotilha também lhe negarem reconhecimento depois de morto. E o raio do andaço desluziu ao ano que tardiamente lhe dedicou a RAG, polo que solicitamos se prorrogue ao ano próximo.

Advogado. Ourense - Vigo - Porto