Galiza é o País dos tempos perdidos.

Por José Paz Rodrigues, Professor reformado da Universidade de Vigo e Presidente da ASPGP.

ALGÚNS BELOS TEXTOS SOBRE GALIZA :

Os textos, fragmentos e treitos que coloco a seguir, depois de lidos, podem ajudar para levantar o ánimo de crianças, jovens, adultos e maiores, em tão sinalada data, e criar também o aprécio pela sua Terra, para que a defendam e se sintam orgulhosos de serem galegos, da sua língua e da sua cultura e património natural e artístico. O que não obriga a estar em contra de outras línguas e culturas.

1.-Da medida das cousas, por Vicente Risco:

”Ti dis: Galiza é bem pequena. Eu dígo-te: Galiza é um mundo. Cada terra é como se fosse o mundo inteiro. Poder-há-la andar em pouco tempo do norte para o sul, do leste para o oeste noutro tanto; poder-há-la voltar andar outra vez e mais: não a hás dar andado. E de cada vez que a andes, hás encontrar cousas novas e outras hás botar de menos. Pode ela ser pequena em extensão; em fondura, em entidade, é tão grande como queiras, e desde logo, muito meirande de como ti a vês. Não dim os filósofos que o homem é o “microcosmos”, o compêndio, o resumo do universo tudo? Para quanto mais uma terra com todos os homens que em ela vivem, um povo que, se cadra, é uma sorte de Adam Kadmon… Do grandor do teu espírito depende tudo; quanto mais pequeno seja, mais terra há precisar. Se o teu pensar é fundo, a tua terra, para ti, não ter há cabo; em ela estar há o mundo com todos os seus climas. Se o teu pensar se detém na códia das cousas, não digas tãopouco: Galiza é bem pequena, és ti, que endejamais poder hás conceber nada grande”.

2.-Galiza somos nós, poema de Manuel Maria:

“Galiza docemente
está olhando o mar:
tem vales e montanhas
e terras pra lavrar!
Tem portos, marinheiros,
cidades e labregos
carregados de trabalhos,
carregados de trafegos!
Galiza é uma mãe
velhinha, sonhadora:
na voz da gaita ri-se,
na voz da gaita chora!
Galiza é o que vemos:
a terra, o mar, o vento…
mas há outra Galiza
que vai no sentimento!
Galiza somos nós:
a gente e mais a fala.
Se buscas a Galiza
em ti tes que encontra-la!”

3.-Deitado frente ao mar, poema de Celso Emílio Ferreiro:

“Língua proletária do meu povo
eu falo-a porque sim, porque me gosta
porque me peta e quero e da-me a ganha
porque me sai de dentro, alá do fundo
de uma tristura aceda que me abrangue
ao ver tantos patufos desleigados,
pequenos mequetrefes sem raízes
que ao pór a garavata já não sabem
afirmar-se no amor dos devanceiros,
falar a fala mãe,
a fala dos avós que temos mortos,
e ser, com rosto ergueito,
marinheiros, labregos da linguagem,
remo e arado, proa e relha sempre.
Eu falo-a porque sim, porque me gosta
e quero estar com os meus, com a gente que sofreu longo
uma história contada noutra língua.
Não falo para os sobérbios,
não falo para os ruíns e poderosos,
não falo para os finchados,
não falo para os estúpidos,
não falo para os valeiros,
que falo para os que aguantam rejamente
mentiras e injustiças de cotio;
para os que suam e choram
um pranto cotião de borboletas,
de lume e vento sobre os olhos nuos.
Eu não posso arredar as minhas verbas de
todos os que sofrem neste mundo.
E ti vives no mundo, terra minha,
berço da minha estirpe,
Galiza, doce mágoa das Espanhas,
deitada frente ao mar, esse caminho…”

4.-Frases de Castelão:

“Se aínda somos galegos é por obra e graza do idioma”.
“A nossa língua floresce em Portugal” (no Sempre em Galiza).
“Uma língua é mais que uma obra de arte; é a matriz inasgotável de obras de arte”.
“Sendo galego não devo de ser mais que galeguista”.

Ourense (Galiza), julho de 2017 (nas vísperas do Dia da Pátria).