Paredes de Coura | A receita das patles, antepassado do ‘Waffle” é uma das 140 que constam de três manuscritos, datados da 1.ª metade do século XIX, aos primeiros anos do século XX, guardados em Paredes de Coura, e reveladas, sábado, em livro.
Os “Cadernos da Casa do Outeiro – Um receituário senhorial de Paredes de Coura”, da autoria de Sandra Morais, conta a história da evolução do gosto e dos sabores a partir do manuscritos da família de nobres que vivia naquele solar setecentista, em meio rural, na freguesia de Agualonga.
A publicação foi apresentada no passado dia 26 de fevereiro às 15:30, na Casa do Conhecimento, em Paredes de Coura, seguida de degustação de doces secos, confecionados pela autora a partir das receitas de receitas centenárias.
O primeiro livro de Sandra Morais retrata a investigação que a autora iniciou em 2019 e concluiu em 2021, quando recolhia material para o doutoramento em Patrimónios Alimentares: Culturas e Identidades, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Sandra Morais.
Os manuscritos que deram origem ao livro estão no arquivo municipal de Paredes de Coura, à guarda da Câmara local, proprietário do imóvel. A receita das patles foi o “elemento desbloqueador da investigação”, por remeter para “receitas muito antigas e que permaneceram na cultura alimentar portuguesa até ao século XX”.
Com o apoio de um especialista em doçaria do seculo XVI ao século XVIII, Sandra Morais, de 49 anos, concluiu que a receita do patles, doce feito de massa leveda, frita, “é muito semelhante à das ‘baffleses’, do Convento de Odivelas”.
Ao “desenrolar um novelo” gastronómico da Casa do Outeiro, a autora, nascida em Angola, mas criada em Paredes de Coura, terra dos pais, percebeu que família que habitou o solar “tinha acesso a livros de culinária de referência”, naquela época.
Um dos primeiros proprietários da Casa do Outeiro foi Esteves da Fonseca Martins, a quem se deve a sua construção no século XVIII. O solar, bem como as quintas vizinhas, foi durante séculos propriedade da família d’Antas.
Foi deixado por herança, pelo primeiro proprietário à sobrinha, Francisca Rosa Pereira D’ Antas que, por sua vez, o passou à neta, Francisca Rosa e D’Antas Bacelar e Barbosa que, no século XIX, por casamento, passou a usar o título de viscondessa do Peso de Melgaço.
São inúmeras as receitas de doces, “porque o açúcar já era acessível, sobressaindo as compotas e marmeladas, por ser uma cozinha de precisão que tem de ser registada”. Nos outros dois manuscritos, que remontam aos primeiros anos do século XX, as receitas “são já muito influenciadas pela cozinha francesa que as elites privilegiavam”, bem como pela culinária brasileira.