No passado mês de janeiro cumprirom-se cem anos do assassinato cruel e despiedado de Rosa Luxemburgo e parece de justiça recuperar sua memória, a da ideóloga, teórica e pratica, dialética, lutadora, reformista, intelectual, divulgadora, anti-imperialista, que posso paixão em todo o que tocou na vida e que com seu exemplo foi uma apaixonada feminista.
Foi pola década dos sessenta quando teve noticia de Rosa Luxemburgo, com outros vultos do marxismo, socialismo e socialdemocracia, a través de recensões, comentários ou divulgações de seus escritos obtidos clandestinamente. Não me mereceu demasiado interesse Rosa Luxemburgo, pois a formulação política que me chegou daquela respecto do direito dos povos á sua autodeterminação foi a médio de comentários da sua obra mais completa sobre o tema, titulada “A questão nacional e a autonomia”, na que, contrariamente ás propostas de Lenin, considerava irrelevante o tema da independencia nacional para a crase operaria e não via possibilidade alguma de insertar o movimento de independência nacional nas forças do proletariado; para ela o objetivo final era a abolição do sistema de crases e a unidade internacional proletária. Assim, grossamente, carecia de interesse para mim, nacionalista convencido, toda a formulação política de Rosa Luxemburgo, ainda que houvesse um dito seu do que sim gostei: “a liberdade sempre foi e segue a ser a liberdade para aqueles que pensem diferente”
Passados anos chegou-me uma nota biográfica sobre Rosa Luxemburgo que incitou minha curiosidade tanto sobre o personagem como sobre as motivações para negar o direito de autodeterminação das nações baixo o socialismo. Penso que a esta altura carece de relevância volver sobre as teses políticas de Rosa Luxemburgo, ainda que sua própria biografia e o entorno político e social da época explica muitos dos seus postulados, aos que não é alheio sua origem polaca e ficar Polônia dividida entre dois estados soberanos (Rússia e Alemanha) e as particulares relações sociais dentro da cada um dos grandes impérios da época. O que me fez realmente rever considerações sobre aquela pensadora foi sua dimensão humana. Ponto de partida foi que estando em Berlim no principio do ano, já há tempo, enterei-me de que nessa cidade um domingo a mediados de janeiro celebra-se cada ano o dia de Rosa Luxemburgo.
Rosa Luxemburgo nasceu no 1.971 na Polônia daquela baixo domínio de Rússia. Tinha todo em contra, era natural de um país colonizado, mulher, judia e para mais inri, coxa, ocasionado por um defeito de crescimento que a discapacitou física e psicologicamente desde a idade de cinco anos. Foi capaz de superar todos os atrancos. Aos quinze anos aparece integrada como membro de um partido polaco esquerdista; foi boa estudante e realizou estudos universitários na Universidade de Zurich alcançando o grado de doutorado, em épocas na que resultava insólita a presença da mulher na Universidade. Manteve um ativismo constante alem de ser uma das principais teóricas e líder da socialdemocracia polaca. Foi encarcera em varias ocasiões por suas atividades políticas, enfrentou se dialeticamente e nos seus livros e escritos a todos os teóricos do marxismo e socialismo da época, entre eles a Lenin. A paixão revolucionaria de Rosa Luxemburgo convivia com seu sentimento pacifista; opuso-se á participação dos socialdemocratas na I Grande Guerra o que lhe custou quatro anos de prisão por promover a objeção de consciência e pedir aos soldados que se negassem a combater; escreveu “a guerra é um assassinato de massas metódico e organizado”. Como jornalista, polemista e revolucionaria foi definida por P. Jove, que deu titulo a seu estudo e do que tomo o encabeçado a este artigo, acrescentado o de “feminista” porque penso que pode ser um exemplo fulcral para o movimento feminista actual. Considerada a principal teórica da socialdemocracia polaca, sobardou qualquer fronteira geográfica ou política com sua atividade revolucionaria pessoal e intelectual da época, pensamento agora arrombado, desaparecidos seus principais fundamentos que eram a massa proletária e a consciência de crase; porem deixou igualmente escritos sobre nacionalismo, capitalismo, democracia, imperialismo, etc.
Em 15 de janeiro de 1.919 Rosa Luxemburgo foi capturada e detida no âmbito da repressão desatada contra a onda revolucionaria promovida polo Partido Comunista Alemão (atividade com a que havia manifestado sua oposição) e imediatamente assassinada a culatrazos e destroçado o crânio, disse que polo soldado Otto Runge e rematada polo tenente Kurt Vogel de um tiro na nuca, lançando seu corpo num saco cheio de pedras ao rio Spree, assassinato planeado polo chefe máximo da oficina de inteligência militar de Hitler e organizador dos Freikorps, Wilhelm Canaris. Outra versão sobre a responsabilidade dos seu assassinato implica a Waldemar Pabst, capitão do exército prussiano, furibundo anticomunista, que chegou a manifestar que “em janeiro de 1.919 assisti a um meeting do Partido Comunista Alemão no que falavam Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. Soube que eram os líderes intelectuais da Revolução e decidi que tinha que ordenar que os mataram. Seguindo minhas ordens foram arrestados. A decisão de matalos não foi fácil, porem sego a pensar que foi uma decisão moral legítima”.
Rosa Luxemburgo foi muito mais que uma teórica do socialismo, algo mais que uma líder comunista, uma das dirigentes marxistas mais importantes da historia do S. XX, cujo valioso legado fica hoje bastante esquecido. Uma mulher que rompeu todas as regras e limitações que a sociedade de sua época reservava ás mulheres: ativa física e intelectualmente em política, mantendo publicamente discrepâncias com vultos teóricos na política de sua época, superando todas as barreiras tanto de sua origem como da participação efetiva na vida política, da que as mulheres ficavam excluídas; na altura na que as mulheres ficavam igualmente praticamente excluídas da Universidade, doutorou-se em Econômicas; viveu sua própria vida e nunca foi a sra. de Gustav Lübeck, com quem casou em 1.898, levando de jeito totalmente independente sua atividade política e incluso familiar; lutou não só contra as injustiças sociais senão também contra a marginação como mulher. Dificilmente poderemos topar uma mulher que representa de jeito mais real a luta feminista. No volume de vários autores com titulo geral de “O desafio de Rosa Luxemburgo”, B.D. Wolfe apresenta um artigo que titula “O último “home” no partido socialdemocrata alemão”
Este é o motivo de que hoje invoque sua existência, a barbárie da época que lhe tocou viver, sua brutal morte, sua luta desigual no político e no social, seu valor para enfrentar-se aos perigos de prisão, persecução e até a morte, seu coragem feminista em solitário que nos alerta, nestes tempos de revindicações feministas, que já há mais de cem anos uma mulher equiparou-se a todos os homes revolucionários marcando um status de igualdade e reivindicação.