Caminh@2000 | É prática habitual no início das reuniões camarárias descentralizadas, encetadas desde que os socialistas recuperaram o poder em 2013, conceder a palavra ao presidente do Executivo local, o que veio a suceder no plenário realizado em Orbacém no Centro Cultural e Social no último dia do mês de Maio.
Embora a freguesia esteja presentemente constituída por Gondar e Orbacém, José Cunha, presidente da Junta, ao iniciar o seu discurso, não deixou de registar que se tratava de duas freguesias agregadas, e que Orbacém recebia pela segunda vez esta sessão aberta à população, para que os seus habitantes “possam questionar os responsáveis” sobre temas que os preocupem e que sejam solucionados após estes contactos directos com o Executivo camarário.
Um dos casos que mais preocupa a Junta de Freguesia é a limpeza dos caminhos florestais.
José Cunha recordou a Rui Lages, presidente do Executivo, que esta aldeia possui uma das maiores manchas florestais do concelho de Caminha. Chamou a atenção para a necessidade de intervir prioritariamente numa zona onde “regularmente” deflagram incêndios. Acentuou que o Conselho Directivo dos Baldios actua de acordo com as suas possibilidades, mas é difícil e insuficiente, acentuou.
Rede de águas a merecer atenção
Se os fogos florestais são um dos problemas, no oposto, em referência ao abastecimento de água, a situação também merece cuidado, designadamente em Gondar, onde os Baldios garantem o abastecimento “com qualidade” à população e ainda recentemente investiram 60.000€. Contudo, no verão o líquido escasseia, e desconhecem prazos para que a AdAM chegue a esta freguesia.
Já em Orbacém, o abastecimento de água é da responsabilidade da AdAM, mas existem reclamações porque, por vezes, chega “barrenta” às torneiras porque a captação existente em S. Lourenço da Montaria está destruída e ninguém a repara, lamentou José Cunha.
O estado em que são deixados os pavimentos após as intervenções da empresa de água mereceu de igual modo um reparo. “É caro, mas o caminho faz-se caminhando”, assumiu José Cunha quando abordou a falta de rede de saneamento na freguesia de Gondar e Orbacém. O recurso às fossas “está a estragar as fontes, nascentes e rios” e o interior do concelho também necessita deste melhoramento, insistiu.
Sem fibra óptica não se pode trabalhar
Trabalhar com a Internet nas horas de expediente “é difícil”, denunciou este autarca, e há quem necessite da fibra óptica para poder exercer as suas actividades, razão do pedido formulado ao presidente da Câmara para que intervenha na resolução desta lacuna.
A Assembleia Municipal aprovou recentemente a adesão de Caminha a um plano supramunicipal de transportes públicos, recordou o autarca, mas ainda há pontos a melhorar, assinalou José Cunha ao elencar mais esta situação a merecer atenção da parte da Câmara Municipal.
Parque Infantil necessita de manutenção
A autarquia de Gondar e Orbacém pretende um parque infantil novo nesta última freguesia “até final do mandato”, porque o actual não se encontra em condições – ao invés do que sucede com o Bikestation localizado perto, frisou -, mas , entretanto, pediu manutenção para que as crianças possam desfrutar dele em segurança.
José Cunha aproveitou ainda o momento para realçar o “relacionamento fácil” que o seu Executivo mantém com a Câmara de Caminha, apenas os apoios concedidos não correspondam ao desejado, embora sublinhasse os contributos concedidos ao Trail do Pote e Raid TT que conseguiram atrair 1600 participantes no corrente ano.
Incluiu nas medidas de apoio tomadas pela Câmara Municipal, os acordos de execução e os protocolos de transferência de competências e transportes escolares para a freguesia, o que lhes permite conseguir “alguma autonomia para fazer pequenas coisas”, além do fornecimento registado em materiais, máquinas e disponibilização de trabalhadores do Município para algumas intervenções, sem os quais a Junta nada poderia fazer. Neste âmbito, perguntou se a Câmara Municipal possuía um topógrafo, mas o Executivo tem apostado na contratação de pessoal externo, esclareceu Rui Lages.
Esta foi uma das respostas dadas pelo presidente do Executivo às inquietações da Junta de Freguesia, com a qual “trabalhamos numa base de lealdade” – como sucede com a maioria das freguesias, louvou.
“Connosco, as juntas de freguesia sabem com o que podem contar”, garantiu Rui Lages, apesar de apenas lhes ser possível “dar o que podemos”, mas, sublinhou, “temos vindo sempre a aumentar” os apoios (24%), a despeito “das críticas da oposição e de alguns presidentes de junta”, garantindo que pretendem continuar a subir paulatinamente os apoios, incluindo os directos e técnicos. Admitiu, no entanto, ser necessário prestar mais atenção às freguesias com maior dimensão.
25Ha/ano
Em resposta ao repto lançado pelo Executivo da Junta anfitriã desta sessão descentralizada, Rui Lages acentuou que “temos feito muito” com os curtos meios de que dispõem “para limpar a floresta” dando como exemplo os 25 hectares de floresta limpos anualmente. De modo a aumentar a capacidade operacional nesta área, avançou com a informação de que pretendem adquirir um tractor e uma roçadora. Lamentou a situação criada à raiz das intempéries do último Inverno, em que muitos caminhos de monte ficaram intransitáveis, mas a resposta do Governo para reparação da rede florestal, tarda, lamentou.
Saneamento é “complexo”
Embora admita a justeza da reivindicação da Junta de Freguesia, o líder do Executivo municipal admitiu seu muito “complexo” acudir à questão da rede saneamento em freguesias como a de Gondar/Orbacém, apesar deste concelho possuir uma cobertura assinalável. Referiu, a propósito, que ainda na véspera tinha estado reunido com a AdAM para analisar esta e outras situações.
A propósito, a vereadora Liliana Silva concordou com o reparo feito ao estado dos pisos após a instalação das redes de água.
Caminhos de Santiago a merecer atenção
“Os Caminhos de Santiago não são uma moda”, vincou Rui Lages, em reconhecimento da intervenção de José Manuel Araújo, presidente da Assembleia de Freguesia, mas intervindo nesta sessão como morador.
“Tenho uma paixão há muitos anos pelos Caminhos de Santiago”, referiu este orbacenense. No entanto, parece-lhe que “Caminha ainda não acordou” para esta realidade que tem vindo a observar-se nos últimos tempos.
Nesse sentido, pediu mais manutenção para a sinalização implementada pelos 10 municípios do Alto Minho e sugeriu “placardes informativos” alternativos, dado haver quem destrua a sinalética colocada, assinalando a importância de indicar itinerários pela praia, desde Âncora até Caminha.
Este membro da Associação dos Amigos do Caminho de Santiago deu outras sugestões de melhoria das condições da travessia neste concelho, como seria o caso da colocação uma passadeira num troço em Seixas e pediu a utilização de um pavilhão para pernoita dos peregrinos, sugerindo ainda o estabelecimento de uma parceria para adaptação das antigas piscinas da Santa Casa da Misericórdia a albergue, ou na Central de Camionagem, sem esquecer as condições que devem ser disponibilizadas aos que utilizam o cavalo.
A concorrência entre os barcos que transportam peregrinos na Foz do Rio Minho, face à inoperacionalidade do ferry-boat, mereceu uma apreciação da parte deste morador, levando Rui Lages a precisar que não pretendiam rivalizar com privados ou instituições.
O presidente da edilidade admitiu o roubo de placa indicadoras dos itinerários, e desvios de sinalética para outras paragens por “interesses particulares”, denunciou. A Câmara tem procedido à promoção de diversas iniciativas (30) desde 2017, integradas nos Caminhos de Santiago, quer através concertos e palestras, a par da edição de uma brochura.
Alguma polémica sobre o eventual desvirtuamento do Caminho de Costa mereceu uma intervenção da vereadora Liliana Silva, pelo facto de os peregrinos chegarem à Foz do Minho e transporem logo a fronteira através dos táxi-boats. Por tal facto, o albergue de Seixas não consegue preencher metade da sua capacidade.
A edil da oposição sugeriu que o site camarário fosse actualizado, bem como as publicações a distribuir pelos postos de turismo e manifestou concordância quanto à colocação de placardes publicitando os itinerários e albergues. Alertou para o facto de o nome de Caminha não constar no Museu do Peregrino em Santiago de Compostela.