A Constituição Española, que todos os políticos invocam como inamovível e cada qual interpreta (ou incluso modifica) segundo seu interesse, considera sujeitos os cidadãos e os poderes públicos e constitui a España, além de um Estado social e democrático (art 1), num Estado laico ou aconfessional ao estabelecer que “nemguma confissão terá o caráter de estatal” (art. 16). A Transição, que em nada mudou os poderes económicos, políticos e judiciais, tampouco no caso da Igreja, cuio poder segue a ser onímodo e pretende ser uniconfessional.
“[A] Igreja, cuio poder segue a ser onímodo e pretende ser uniconfessional”
Há poucos dias a Radio Galega, radio pública, e polo tanto laica, no programa “Pensando em ti”, o jornalista que dirige o programa da passo a um sacerdote que abençoa em direto seu novo estúdio multimídia e que em quatro minutos diz cousas como “el que cree y se bautice se salvará, el que se resiste a creer será condenado”.
Com motivo do Capítulo do Solsticio de Verâo a Irmandade dos Vinhos Galegos decidiu celebrá-lo em Compostela e de passo visitar a Catedral e fazer oferenda ao Apostolo com funcionamento do Botafumeiro.
Redigim a oferendo do seguinte teor:
“Senhor Santiago, vimos cumprimentar-vos com respeito na maior catedral românica de Ocidente que levantou o Reino de Galiza por vossa grandeza. Somos uma associação de homens, amantes de Galiza, de suas gentes, seu território e sua fala, unidos na defensa do vinho, e tudo o que significou na vida e cultura no mundo, designadamente o vinho produzido na Galiza, por isso nos chamamos, Irmandade dos Vinhos Galegos… (por mor de espaço vou saltar um parrafo que só fala do vinho). No S. IX e seguintes, muito antes da chegada dos monges de Cluny a Galiza, já exportávamos grandes quantidades de vinho galego a outras cidades europeias mercê á qualidade reconhecida do vinho do Ribeiro, até que no S. XVII rematou com este frutífero comercio a proibição, por causa de disputas pessoais de reis alheios, de exportar a Inglaterra. Sofremos perseguição de próprios e alheios como o Sr. Santiago que suportou invejas desde Roma até cabeças reinantes, das que entendemos saiu adiante polas suas qualidades e a devoção de gentes que confiarem em Voçê. Invejas politicas do projeto de criação de um reino Cristiano chamado Galiza (“ocidentalia loca” que dize o breviarium apostolorum) ou humanas da independência religiosa de Compostela fronte a Roma ao haver-nos chegado o anuncio do evangelho diretamente por um dos apostoles mais próximos a Cristo.
Ainda que somos um grupo diverso no que uns podem ser cristãs, ou crentes, ou praticantes, também exceptivos, incrédulos, indiferentes ou incluso ateos e todos sentimos o amor a Galiza e consideração ao vinho, temos tudo o respeito e reconhecimento ao Senhor Santiago, conhecedores da sua pessoa, seus valores, da historia e incluso da lenda.
Somos gente de paz, romeiros que vimos visitar ao Santiago evangelizador, peregrino, ao Santiago predicador não ao invento de monarcas castelhanos numa batalha, como pouco, duvidosa na que espada em mão decapitava muçulmanos igual que Herodes te mandou decapitar; nos estaríamos com o senhor Santiago no sofrimento do martírio e não nas cavalgadas guerreiras, tal vez inventadas, matando inimigos, igualmente rejeitadas polo nosso rei Afonso VIII (IX). Porque além da lenda ou da realidade, a invenção de tua sepultura, a noticia de teu magistério, supujo um impulso importante no mundo, na economia e no sentimento para nosso povo.
Por isso, Sr. Santiago, além de crenças ou lendas, recebe esta oferta que com todo carinho e respeito te faceemos os Irmandinhos do Vinho Galego, agradecidos”.
O texto foi-me censurado pola autoridade eclesiástica, mas o surpreendente é que a censura se centrou no rejeitamento que fazíamos do Apostolo guerreiro, no párrafo que comeza com que “Somos gente de paz…”, a partires de onde expressa “não ao invento dos monarcas…” alegando que a batalha de Calvijo sim existiu, que a intervenção do Apostolo foi providencial e nos liberou do tributo das cem donzelas.
“O texto foi-me censurado pola autoridade eclesiástica, mas o surpreendente é que a censura se centrou no rejeitamento que fazíamos do Apostolo guerreiro”
Segue a lenda ahistórica.