Confesso que não sei o que se passa comigo!
Há uns anos atrás, alguns políticos sempre me divertiam imenso e alimentavam a minha ironia, achava-os patuscos, ficava enternecido a vê-los com o mesmo entusiasmo e ingenuidade de uma criança que ri com a curiosidade das tropelias de um pequeno cachorro que mal dá os seus primeiros passos, ora ziguezagueando ora caindo desamparadamente para o lado como se ébrio estivesse.
Hoje, essa classe merece o meu desdém, a indiferença e desconfiança que se nutre quando entramos numa loja de chineses e esperamos encontrar algo com um mínimo de durabilidade e qualidade …
Por isso continuo curioso, mas nada resignado, como é que num país que alcançou um nada invejável ‘palmarés’ de corrupção, compadrio e pulhice política a patamares de hierarquia nunca tão elevados, tantos cidadãos ainda percam tempo a discutir, analisar, fazer futurologia, reprovar ou adolar as façanhas e as estratégias dos governantes!
Terá esse povo uma fé que não a minha? Confidentes ou fontes que eu não tenho? Poderes de cartomante de que tardiamente se deu conta? Será gente que em lugares recônditos ou reuniões secretas ouvem os ‘sábios’ manipuladores de comunicação que a soldo se ‘pavoneiam’ como comentadores políticos?
“Terá esse povo uma fé que não a minha? Confidentes ou fontes que eu não tenho? Poderes de cartomante de que tardiamente se deu conta?”
E até desculpabilizam a arrogância, crêem fervorosamente nas promessas de alguns e sorriem com bonomia quando se aproximam eleições e os governantes anunciam descidas de impostos, benesses aos emigrantes que queiram regressar e o que mais por aí virá…
Por outro lado, terão os políticos a mais acesa esperança de que, nos tascos, nos cafés, nas ‘matinés’ e ‘soirées’ dançantes ou nos intervalos de um qualquer espectáculo, nos comícios, no facebook, nos blogues, em geral esse palavreado faz sentido ou resulta? Ou que por se desviarem com um sorriso matreiro às perguntas incómodas dos jornalistas tem efeito?
Ou que o povo acredita que … o voto realmente conta?
O progressivo aumento de abstencionismo nos sufrágios eleitorais responde a tudo isso e muito mais…