Em dias sucessivos, o 18 e o 20 de dezembro, comemoram-se respeitivamente os dias internacionais das Migrações e o da Solidariedade Humana. E no dia 10, uns dias antes, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Estos três temas tão importantes nos levam a lembrar a uma pessoa que na sua vida desenvolveu um grande labor de solidariedade, e também conheceu a emigração. Estou a referir-me ao Padre Américo, de nome Américo Monteiro de Aguiar (1887-1956), um grande vulto português que nasceu a 23 de outubro de 1887 na freguesia de Galegos, uma localidade próxima de Penafiel. Faleceu vítima de acidente de viação em Campo, no concelho de Valongo, a 16 de julho de 1956. A sua família dedicava-se ao comércio, pelo que por imposição paterna teve que seguir a carreira comercial.
Frequentou o ensino primário na sua terra natal, passando em 1898 para o Colégio do Carmo, em Penafiel, e no ano seguinte para o Colégio de Santa Quitéria, em Felgueiras. Terminados os estudos liceais, em 1902, empréga-se, no Porto, numa loja de ferragens. Em 1906, porém, resolve partir para Moçambique, estabelecendo-se em Chinde, onde trabalha como despachante para duas companhias británicas. No país africano mora durante dezaoito anos, até 1923, travando conhecimento com o padre Rafael Mª da Assunção, que mais tarde seria nomeado bispo de Cabo Verde.
Regressado a Penafiel, em 1923, contata com o pároco local, de quem tinha sido companheiro de infância, e comuníca-lhe o desejo de entrar para um convento franciscano, dando como única explicação a frase: «é uma martelada! Dois meses depois entra no Convento franciscano de Santo António de Vilarinho, em Tui (Galiza), onde permanece durante nove meses como postulante, a estudar latim e ciências naturais e mais um ano, depois da tomada do hábito, tornando-se um noviço franciscano. As dificuldades em se adaptar à vida monástica conduzem à sua saída em julho de 1925, mas tenta ingressar no seminário diocesano do Porto, embora o bispo António Barbosa Leão não dê seguimento ao seu requerimento. Contata então o bispo de Coimbra, Manuel Luís Coelho da Silva, que o aceita. Depois de se formar em Teologia no seminário de Coimbra, foi nomeado Perfeito do Seminário e professor de língua portuguesa. Quatro anos mais tarde já era sacerdote. Passando a ser capelão em Casais do Campo, freguesia de São Martinho do Bispo e designado pároco de São Paulo de Frades, não chegando a tomar posse, incapacitado por um esgotamento.
Em 1932, quando o bispo de Coimbra lhe entrega a Sopa dos Pobres, é quando se começa a revelar no Padre Américo a sua verdadeira vocação, não parando mais a partires de aí. E sendo considerado como um importante benfeitor que dedicou a sua vida aos mais carenciados, principalmente jovens, que se traduziu em inúmeras realizações. Em maio de 1935, foi convidado para São Pedro de Alva pregar à população. Certo dia o pároco da freguesia leva-o à escola primária e foi aí que idealizou e teve a visão da «Obra da Rua», fundando a sua primeira «Casa da Colónia», como era assim chamada a «Casa do Gaiato», a mais conhecida e relevante das suas obras postas em prática. Em agosto decidiu ir para a capital de distrito, e então inicia as «Colónias de Férias do Garoto» da Baixa de Coimbra, estágio embrionário do que viria a ser posteriormente a «Casa do Gaiato». Posteriormente foi para Vila Nova do Ceira e Miranda do Corvo. Finalmente, a 7 de janeiro de 1940, o «Padre da Rua» funda a primeira «Casa do Gaiato» (uma espécie de «Cidade dos Muchachos», como as dos Padres Flanagan e Silva), no lugar de Bujos em Miranda do Corvo, e a segunda «Casa do Gaiato» no mosteiro beneditino de Paço de Sousa, perto de Penafiel e não muito longe do Porto. Este formoso lugar, escolhido por ele, para o surgimento da «Aldeia do Gaiato», foi utilizado para o acolhimento e alojamento de jovens com carencias, sociais, familiares e económicas, ou abandonados nas ruas, com condutas anti-sociais, etc.