Há pouco tempo em outro médio jornalístico escrevi sobre palavras. A palavra, que não é palavra, escolhida como palavra espanhola do ano, emoji, e a palavra do ano na Galiza, que foi “sentidinho”, e como precisamente essas palavras do ano podiam definir a idiossincrasia de cada um. Infelizmente, volvo ás palavras; pensei que o importante nas manifestações dos políticos já seriam as declarações de propostas e intenções ou de conselhos para modificar atitudes ou projetos, mas o principal que topo é de novo palavras… palavras não, palavrões, não palavras para falar senão palavras para insultar, para desqualificar, para ameaçar, lançadas como obuses para ferir, para matar. A impotência personificada no insulto.
Palavras que saem na boca de ilustres representantes políticos do povo e da sociedade espanhola; personagens elegidos polos méritos que se lhe suponham. Ainda me martilham algumas: Puta, indigno, assassinos, terrorista, tribunais, fuzilar, a por ellos, apologetas del terrorismo… não é estranho que com estes exemplos dos que em teoria seriam os pais da pátria podam gentes do povo pendurar carteis como o que denunciava há poucos dias o ator Karra Elejalde num bar de Sevilha com o seguinte texto: “prohibida la entrada a perros y bascos”. Se os políticos nos encirram com seus proclamas o povo inflamado pode resultar muito perigoso. Alarmado contemplei como a responsável do Cs chamava a desertar aos representantes e militantes do Psoe, sem o mínimo rubor; realmente isto sim que é indigno; podes tratar de que a sociedade, o votante, escolha tua proposta fronte a outras e convencer ao eleitorado de que a melhor oferta é a do teu partido político e podes incluso desqualificar o programa dos outros partidos em liza, mas assediar, ou simplesmente animar, aos representantes eleitos por uma determinada ideologia ou proposta para trair a seus representados, trair a seu partido, parece-me filobusterismo consciente ainda agravado com a frase, para algum desses representantes, de que “um soldo público não justifica tanta indignidade”; indignidade é promover a traição.
Os palavrões voaram de uns aos outros e os media, certamente, não forem nem “medianamente” benévolos ou indulgentes com os bárbaros anatemistas senão que reproduziram reiteradamente seus insultos e sua valoração; porque os mesmos que chamaram assassinos e terroristas a vários deputados reclamaram airadamente, valorando como insultos ao monarca, que um deputado de outra formação política, no exercício legítimo de sua liberdade de expressão, criticou-o de “autoritário”, analisando um seu discurso. O espetáculo em prensa, radio e TV do rifirrafe político, das declarações e do teatro bufo no Congresso desqualifica tanto aos protagonistas dos insultos como aos que gregariamente os aplaudiam ou impediam com seus berros que se expressasse com liberdade o deputado que estivesse no uso da palavra.
Agora valorei muito mais a palavra do ano para os galegos: sentidinho. Porque isso é o que se precisa na política do Estado. Lamentavelmente os deputados eleitos por partidos das três extremas direitas, ainda que procedessem de territórios periféricos, forom igual de intransigentes em expressões ou ruídos que seus colegas da meseta; o problema não é a procedência territorial senão a procedência política ou ideologica. Lamentável. Só de desvergonha, falta de humanidade e da mínima educação se pode qualificar o desaprecio com que o Vox Espinosa de los Monteros (a quem se supõe ter recebido uma boa educação) chamou, numa entrevista do programa de Ana Rosa no Congresso, “especimem” a Echenique, de Podemos, mais cruel se temos em conta sua minusvalía física. Curiosamente os integrantes de estes grupos das três direitas som os que pulam póla educação privada e póla matéria de religião como obrigatória nos colégios, precisamente os que com mais veemência pateavam, berravam ou insultavam; não parece que nesses colégios privados recebam muito boa educação nem que o ensino da religião lhes outorga-se respeito e caridade fronte ao outro, prova de que religião não contribui a formar cidadãos livres, as avessas converte-os na Fe, que é a obediência cega, e no ódio que destilam. Esses ativistas religiosos não amam a seu próximo, recrutam ovelhas e as que fogem do rebanho as anatematizam ou fuzilam ou queimam ou cortam o pescoço, pois de todo e de todos temos exemplos. A Igreja, como sempre, também polo médio neste tumulto. Com muito bom critério Twitter suspendeu a conta de Vox por incitação ao ódio.
E também por incitação ao ódio, pola sua zafiedade e mau gusto, polo que denigra e avergonza a uma cidade e a falta de respeto consigo mesmo do Sr. Alcalde de Ourense, que chegou ao cargo com o apoio do PP á sua forza política D.O., abundantemente votada por cidadão de Ourense, também deveria ser suspendido o Sr. Alcalde ou colocar nos Plenos uma artimanha que impedisse a audição de todos os palavrões, insultos ou descalificações que dirige á bancada da oposição. O Sr. Alcalde está dando uma triste imagem de esta cidade que em algum tempo chegou a ser a Atenas galega.