Consequencias da idade é que cada ano traze novas perdas que ja não compensas com os achádegos que a vida no seu percurso nos depara. Na minha idade prefiro não fazer reconto anual no que me levarom os doze meses anteriores, pois só obtenho xenreira e tristura. No finado ano 2016, em que tantisimo há para lamentar, dous feitos vinherom no mes de dezembro para tirar-me, nesse remate de ano, do meu buscado esquecemento de todo o perdido nos meses anteriores.
Um deles irreversivel. A morte de Bibiano Morón, aquele bravo operario que na sua juventude mostrou todo seu rejeitamento ao franquismo e seu amor a Galiza cantando. Conhezim a Bibiano sendo ele muito novo, integrando aquele grupo de “Voces Ceibes”, con Araguas, Benedicto, etc. que nos proporcionarom a canção protesta autoctona, com nossos anceios e no nosso idioma, canções que coreabamos nas manifestações, remate de concentrações ou incluso em festas populares. Bibiano era o único que procedia da classe operaria, o resto eram mais bem estudantes. Sempre a Bibi o vim ledo e sempre disposto solidariamente. O movimento dos Voces Ceibes foi esmorecendo e por um tempo perdim a Bibiano, mas retomei a relação porque ele seguiu no mundo da música e numa determinada altura colaborou por um tempo com a mítica Sala de Festas de Vigo “Nova Olimpia” da que era criador e titular meu amigo Alejandro F. Figueroa; passarom os anos e só tivem conhezimento de sua actividade músico-empresarial polas novas da imprensa, até que o despegue socio-cultural e hosteleiro do Casco Velho vigués, trouxo até a zona de meu escritorio em Vigo todo tipo de actividades e tertulias nas que de novo, agora da mao de meu amigo o jornalista Fernando Franco, reencontreime com Bibiano com quem alegre e amistosamente departim frequentemente entre copos de vinho e conversa fiada, tambem alguma vez por alí andava Morris. Facia algum tempo que não nos viamos. Pena. Era amigo, solidario, boa pessoa, alegre, feliz e muito novo ainda. Mal raio de ano. Deixa um vazio aquele corpachóm grande, aquele coração imenso, com quem, na minha convição de não crênte, não me volverei a encontrar. Adeus amigo.
“Bibiano era o único que procedia da classe operaria, o resto eram mais bem estudantes. Sempre a Bibi o vim ledo e sempre disposto solidariamente”
O outro feito carece da dimenssão humana do anterior. Deixa um valeiro no meu tempo de lecer. Bieito Iglesias, o autor de Vento de Seda ou A vida apoteósica, entre outras muitas, abandona sua colaboração na revista Tempos com aquele espazo “Dias Soltos” que me proporcionava um disfrute de sentimento e intelecto e me tinha pendente da chegada do mensal para mergulharme naquelas duas páginas de crítica sempre divertida, retranqueira, irónica, inteligente, ocorrente, oportuna, actual e incluso em ocasiões aceda. Meu conhezimento literario de Bieito Iglesias foi e leitura de Vento de seda que me descobriu um autor diferente na temática e no jeito de contala; lendo suas obras adevinhas aquele neno de aldeia da época de emigração a Europa, que tivo que soportar eivas físicas e incluso anímicas, mas que soubo superalas e rir-se das secuelas que lhe deixarom, esquivando posíveis complexos e asumindo e enfrontando com humor as limitações da aldeia e da economia. Bieito lembra a cotio sua época de neno, de mozo e incluso a mais recente; lembra-se de sua familia e dos seus convizinhos: lembra-se da aldeia e de toda a actividade, de trabalhos ou de ocio, que se desenvolvia. Como ourensam sintome identificado, na distancia pola diferençã de idade, con as vivencias ou relatos que nos oferece, como no seu dia me sentim identificado com os contos de Blanco Amor em Os Biosbardos. Por certo, falando de Blanco Amor, Bieito e mais eu coincidmos colaborando num DVD editado pola “Asociación de Escritores em Lingua Galega” sobre Blanco Amor e deixou-me engaiolada a intervenção de Bieito na temática do cine… Volvo ao tema, o abandono em que me deixa Bieito sem seus “Dias Soltos”, mostra da sagacidade para abordar em chave de humor as asneiras e avatares que nos depara cada dia na política, na sociedade, no jornalismo, na economia ou nas insólitas declarações dos que seguem a fazer declarações. Sua retranca, ironia e mordacidade embrulhavam delicadamente o comentario certeiro e impiedoso; ou bem nos levava com olhos de nenos a discurrir por feitos e gentes da sua aldeia e da sua nenez ou sugerentemente a aventuras mais ou menos licenciosas. Tempos seguirá sendo uma revista importante pola propria importancia de seus colaboradores, mas para mim essa amputação dos “dias soltos” é uma perda significativa. Confio em que Bieito dará ao prelo novos romances que me gratifiquem igualmente com sua leitura.
Adeus 2016, pouco, tal vez nada, que agradecer.
Quinta do Limoeiro, janeiro do 2017