Que desfrutem por mim todas aquelas boas pessoas que se sentem livres para ir ao SonRías Baixas, Pardinhas, Carvalheira de Zas, Castelo Rock, Revenidas ou Vilarock. Eu nom posso. De momento. Em algum de todos estes festivais andará metido, ou nom, mas nom posso arriscar. O cam de pressa está aí fora. Porem, mentres escrevo e penso quem se animará a publicar isto, penso também em como poderia ter sido esse segundo encontro.
Foi tam rápido que já nom sabia nem como me caiam. Contou-me gente que viu a agressom que este cabrom me tivo em posiçom de submetimento, hostiando-me com crueldade. De verdade que nom sabia se era ele ou os rapaces que me sacarom dos seus braços, levando-me polo pescoço. Horrível. Agora estou fodida. Nom me sae a imagem da cabeça e choro, cabrum. Porque a minha auto-estima está tocada. De momento.
A minha intençom de nomear agora a Antrospinos deve-se a que gostaria de que todas as organizaçons foram consciêntes de que manhâ pode passar em qualquer festival e há que saber agir, quanto menos, dum jeito humanitário. As pessoas que componhemos umha organizaçom somo responsáveis (nom culpáveis) do que nela sucede. No primeiro momento, depois da agressom, umha boa tropa de gente e gente também da organizaçom, forom junto de ele. Imagino que deviam estar a perguntar-lhe que quê lhe fizera eu a ele para ter que reagir assim, o seu vizinho. Buscariam umha justificaçom para nom ter que passar pola violenta situaçom de ter que bota-lo. Permitiram que eu ficara num recanto e ele na carpa da festa. Que nem o sacarem nem com, nem sem hóstias do terreiro e que comigo nom cruzaram nem um estás bem, precisas água ou gelo para as feridas. Nada. A única da organizaçom que véu junto a mim depois de estar com ele, pretendendo ser amável e riquinha, diz-me que tinha que ter em conta o álcool. Agora sei que era família directa, sinto-o por ela, deve ser muito fodido. De coraçom. Tempo depois ele marchou. Eu fiquei com o gelo e coas amigas que procuravam informaçom sobre a sua identidade e nom toparom mais que o facebook. Ninguem deu nome. Nada.
Cada festeira ou festeiro conta a feira segundo lhe foi nela mas o que é indiscutível é que as organizaçons dos festivais tenhem ou nom tenhem consciência feminista. Na que eu estou, no Festival das Brétemas, há consciência feminista e nom há medo a empregar a palavra, e somos sabedoras e sabedores da situaçom de desigualdade e violência que vivemos as mulheres. Nom falaríamos nunca num comunicado após uns feitos assim no nosso Festival de “tolerância entre homens e mulheres, mulheres e homens”. Rejeitamos os termos igualitaristas, porque nom se pode igualar o que é desigual. Apoiamos como me estam a apoiar a mim e pulamos para denuncialo de jeito colectivo. Sentim que se tocam a umha, respostamos todas. Dam-me a força que me falta. Aguardo que esta experiência anime a todas as organizaçons festivaleiras a ler e entender o que é a opressom machista, a dominaçom e a necessidade dumha resposta urgente das organizaçons que se definem “com consciência” para atalhar estas situaçons e trabalhar na prevençom. Se há desigualdade e esta nom se nomea nem se reconhece, nom há protocolo que vala.
Nunca na vida me hostiei com ninguém. E mira que tivem momentos e motivos…tantos, tantos que se respostara a todos nom poderia ter demasiadas relaçons sociais, laborais nem pessoais. Mas cravei hóstias. Claro que cravei hóstias, poucas; umha porque me impediu de avançar para a minha casa, indo soa, forçando-me a ir com ele e a receber o seu prazer, e quando apareceu um amigo para evitar um mal maior, dixo que eu o que queria era chupar-lhe o rabo. Como nom hostialo? Outra, um pavo me agarrou o cú porque sentiu que é um direito adquirido sermos a sua propriedade. Houvo outra sim, e também de festa. Também o sexo como fio condutor. Ficaram com ela. Hóstias que recebem com vergonha. Sexo débil hostiando ao forte. Aguardam ter-nos domesticadas. Este cabrom intentou tirar-me da valha várias vezes ate que me sapateou ao cham. Tirou-me. Sapateada. Este nom me deu tempo a cravar-lhe nem media hóstia. Este queria peleja.
Arrisco seio, porque resposto se tenho que respostar. Nom deve ser assim? Nom há que defender-se? Estou confundida? Tenho ou temos que ficar com a humilhaçom de sermos agredidas por estes porcos? Esse é o meu delito. Seio. Defender o direito a nós defender. Afirmo também que som brava e com orgulho mas nom devo ser tirada, sapateada e golpeada com sanha pelo feito de ter consciência e me defender das agressons machistas. Logicamente quem agrede nom pensa igual mas, por favor, todas e cada umha das pessoas que achais que a minha maneira de ser é a responsável final das feridas, por favor, fazei umha reflexom. Os vossos juiços firem muito mais que os golpes recibidos. E se nom há reflexom, nom vos esforceis com beijos e flores. Há quem di que nom é violência machista mas imaginemos toda a história ao revés. Homem hetero sem camisola bailando livremente, mais tarde, livremente cum amigo, a última hora, com camisola, pousados numha valha, sem mais gente nas valhas e com valhas para muita gente. 30 pessoas na festa. Muito espaço, eles subindo-se à valha e umha mulher intentando tira-los, até que empurra a um deles com o conseguinte gancho pelo pescoço e as hóstias na face. Poderia suceder? Difícil mas poderia, mas esse tios da valha, nom teriam suportado anteriormente e em reiteradas ocassons ao longo da sua vida nocturna, o acosso, a intimidaçom ou a violência sexual. A mulher sim. Isto nom significa que sermos oprimidas nos tenha que converter em opressoras reproduzindo as suas condutas, tam só plantejo umha analogía para ajudar-vos a construir e analisar a realidade com perspectiva de género.
A violência machista quando apares, precisa ser justificada para nom fazer-nos sentir umha merda, ao ter, ou mais bem decidir seguir relacionando-nos com pessoas assim, porcos machistas misóginos.
Somos conscientes de que lhes fode ver-nos muito seguras, bailando entre mulheres, sem interessar-nos por eles, nos espaços que sempre ocuparam, até que chegamos. Somos conscientes de como as gastam. É a lógica predizível do patriarcado. Fode-lhes, a todo essa borralha machista, que os nossos corpos, que as nossas tetas sejam nossas e decidamos donde e quando as expomos. Fode-lhes ver como nos beijamos colectivamente, sem eles. Fode-lhes que nom baixemos o olhar quando nos acossam e fode-lhes muito mais que o baixemos para escrever e faze-lo público. Querem-nos submisas. Caladas. Esse é o o delito de todas as que respostamos às agressons machistas. Melhor submisas que combativas. E quanto mais combativas, mais hostias e violência. A contraofensiva.
Enquanto estou terminando agora de escrever, a minha companheira intenta ajudar-me dizendo que foi umha experiência mais coa que já contamos as mulheres e pergunta se se levara umhas hóstias dum antidisturbio estaria assim. Digo-lhe que nom, porque todo o mundo me veria como vitima do sistema politico opressor e policial e todo o mundo quando lhe passa se sente heróico e orgulhoso por ter lutado. Resposta-me que é o mesmo. Que é por ter lutado. E quero convencer-me de que assim foi. Mas nom posso…de momento. Porem som consciente de possuir um tesouro que nom todas as mulheres toparom. O meu tesouro é a sororidade, o carinho e o amor do feminismo que está presente em cada umha das amigas e companheiras. Quanto calor recibim estes días… Isso ajuda, e muito, a recuperar a auto-estima. A terápia da manada feminista começa também a surdir efeito.
Muito obrigada a todas.
Lorena Pinheiro